O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, novembro 18, 2013

A GRANDE ALIENAÇÃO DA MULHER...

Sobre o post  "Representações femininas no Facebook" do PDuarte no "L'obéissance est morte":
 
 ..." as jovens na tua publicação só são "putedo" a partir do momento em que tu lhes dás esse nome. Bem vistas as coisas, não há nada de errado em ser puta mas há algo de muito errado na forma como homens (e mulheres) se referem e tratam as putas.
Paternalismo é mau, paternalismo à esquerda é muito mau, o teu post é pior."
 
 
O QUE OS HOMENS PENSAM DESTA MULHER:

"O Facebook converteu-se no grande prostíbulo da putaria global. Quem quer putear sem ser na berma da estrada é para lá que se dirige.(E, no meio disto, Banguecoque, com os seus outrora vibrantes ’go-go bars’, virou uma aldeia pequena e pacata na nova geografia da oferta sexual.)"(do mesmo blog) 

***
O FRUTO DE UMA DIVISÃO ANCESTRAL:

HÁ UMA DIFERENÇA ABISSAL ENTRE A MULHER AUTÊNTICA E A MULHER COMUM DO NOSSO TEMPO, DIVIDIDA EM DOIS ESTERÓTIPOS BÁSICOS, A VIRGEM E A PECADORA...completamente formatado no inconsciente colectivo e ninguém se dá conta dessa formatação impingida à mulher desde que nasce, seja qual for a classe ou a cultura a que pertença.
O QUE ACONTECE  AGORA É QUE A MULHER MODERNA E "EMANCIPADA", A MULHER QUE  EXPÕE O CORPO OBJECTO E REIVINDICA A SUA "LIBERDADE" SEXUAL, NA REALIDADE QUER  TER A MESMA LIBERDADE QUE AS PUTAS...e ser respeitada na mesma...Ela quer ser a pecadora...mas ser respeitada como a virgem...
A questão torna-se confusa...estamos lá perto, mas não é invertendo os termos da questão que a mulher verdadeira se afirma livre e digna!
O FEMINISMO O QUE FEZ, AO ALIENAR-SE DESSA SECULAR DIVISÃO DA MULHER EM DUAS,  LUTANDO APENAS PELA IGUALDADE DOS SEXOS, E DIREITOS IGUAIS AOS HOMENS, NÃO VIU ESSA DIVISÃO ANCESTRAL NA MULHER ENTRE A SANTA E A PUTA E AGORA A CONFUSÃO GENERALIZA-SE...  
 
As feministas e intelectuais, as mulheres modernas do nosso tempo e cultura, desde as mais eruditas às menos cultas, e ainda as muito ignorantes, como é o caso da massificação do conhecimento das gerações mais novas que nada sabem, lidam com estes dois opostos sem ver a Mulher Real na sua dimensão ontológica, nem têm a menor consciência da sua verdadeira Natureza, ctónica e instintiva; elas consideram a sua intuição/emoção um valor menor ou menosprezam em si esses aspecto porque são excessivamente racionais e portanto não têm  noção alguma da sua dimensão do sagrado, ignorando que “a apreensão do divino faz-se pela dimensão do feminino”* por consideram que nas sociedades opressoras da mulher, nomeadamente a religião, tornou o papel exclusivo da mulher, reduzida a esposa e mãe como redutor...e quiseram ser livres sem perceber o que isso implicaria. Á partida elas tinham razão, mas daí partiram para todo o tipo de especulação mental e sem ver ou entender  uma realidade em que a Mulher é ora uma metade de si ora outra…E sem verem a dimensão e a plenitude do Ser Mulher em si, como um todo, nem puta nem santa,  partem para a reivindicação de uma igualdade entre os sexos...gerando-se toda essa confusão cultural que é resultado dessa divisão e da fragmentação do Ser Mulher à partida no Sistema patriarcal.Assim, o feminismo ao buscar a igualdade entre os sexos, sem ter em conta a dimensão do sagrado, e da ligação da mulher à Natureza, nem ver essa divisão da mulher em si, vai anular de certo modo as diferenças fundamentais entre o princípio feminino e o princípio masculino, entre o macho e a fêmea e retira à mulher o seu poder  pessoal naquilo que é inerente à sua essência e natureza profunda da qual foi desligada e por isso  impedida de atingir a dimensão cabal do seu ser impedindo-a por sua vez de ter acesso à consciência e expressão total do seu ser Mulher. Porque a Mulher é "o lugar onde se prova e experimenta a fonte transcendente de todas as coisas".*


Sem essa dimensão do transcendente e do sagrado ela é apenas a "consorte" do homem, anulada ou adulada pelo macho nas suas variantes culturais e sociais, mas ela é sempre vista ora numa função de reprodutora, mãe e esposa ora de objecto de prazer, no papel de amante/prostituta. Separados estes dois aspectos na mulher na tradição judaico-cristã e mais ou menos assumidos em separado nas mulheres em geral, o feminismo partiu da base errada – numa perspectiva positivista ateia e marxista da História - e nos nossos dias, vemos essa divisão subsistir no inconsciente das pessoas, homens e mulheres, embora com estereótipos diversos e contaminados pelas diferentes tentativas de atribuir a mulher um outro valor que não o seu próprio. Deriva ainda dessa circunstância a dicotomia da "santa e da puta” e toda a confusão inerente a esta cisão milenar dentro da própria mulher e estas expressões talvez desusadas são ainda comuns e populares (de acepção mais ou menos depreciativas) e representam a divisão intrínseca da natureza da mulher em duas naturezas distintas. O que não é mais do que a separação da sua natureza erótica e sensual e diria até iniciática (como antiga sacerdotisa da Deusa Mãe) por um lado e do outro a sua função maternal e reprodutora (o casamento instituição) e que assim se viram antagonizadas pelo catolicismo.
Não há afinal de contas "putas nem santas" mas a visão desses aspectos separados na Mulher é o que gera o conceito da mulher ordinária, vulgo puta ou vadia e da mulher "séria" honesta e fiel esposa, casta etc. e isso também padroniza o comportamento do homem em relação a cada mulher...se usas mini-saia...és p...se te vestes de maneira decente és pura…mas a questão crucial da identidade feminina de fundo ficou completamente por resolver com o feminismo e agora temos a mulher doméstica e comum, sobretudo a jovem, já não a prostituta, a querer ter os mesmos direitos da puta...   

Quando me perguntaram um dia se a "minha menina puta" (o que é uma forma insultuosa de o fazer) já saíra do porão e posto as suas flores no altar da deusa, alude-se àquilo que chamam a "prostituição sagrada" com essa acepção ou carga negativa do sexo e da mulher como prostituta...quer ela o expresse na sua maneira garrida de ser, provocante, quer ela o esconda e seja discreta e insípida. Querem os homens dizer com isto que a mulher, qualquer mulher tem sempre lá no fundo uma put…escondida que não assumiu e que se faz de sonsa...ou de santa, o que é típico do pensamento masculino misógino e machista onde também paira sempre uma pontinha de inveja...mas a questão não está nem aí...por agora.
Aquilo que hoje chamam de "prostitutas sagradas" não corresponde de forma alguma ao espírito do paganismo puro mas sim já ao preconceito religioso cristão que denegriu a função das sacerdotisas como iniciadores do amor da Deusa aos homens (a troco de oferendas à Deusa e não ao proxeneta ou ao chulo...explorador da prostituta). No espírito pagão original está implícita a liberdade da mulher em termos da sua expressão erótico/sensual ligada ao divino e ao sagrado e não haver ainda qualquer distinção ou divisão entre essas funções de mãe e de amante na mulher quer da expressões do corpo e do desejo da mulher.
Conclusão, a relação do homem com a mulher está completamente minada e viciada por esta dupla visão da mulher – ela ou é uma ou é outra - e o seu comportamento com ela, grosso modo - sendo quase sempre inconsciente - depende de como ele a vê de acordo com os estereótipos mais antigos, e assim, conforme  ela se comporta socialmente é identificada pelo que veste e usa ou a  forma como se  pinta, se usa decotes, como esta imagem mostra etc.. E por mais que a mulher venha para a rua e diga: "a minha sai curta nada tem a ver com você " - tem tudo a ver com o que o homem efetivamente pensa  do feminino a partir dessa divisão milenar da mulher  em santa e puta e que NINGUÉM QUER VER. 
 rosaleonorpedro
(*Michel Cazenave)

4 comentários:

PDuarte disse...

Este seu texto é belíssimo!! Dá pano para muitas mangas...

Que opinião tem sobre o facto de vivermos numa sociedade onde a dominação masculina sobre a mulher leva a que esta se auto-represente imageticamente (como por ex. no Facebook) através da mera reprodução de uma ‘linguagem’ sexual estereotipada, presa a um modelo (mulher objecto, sex toy, etc.) que mais não faz do que perpetuar essa mesma dominação?

Saudações blogosféricas.

rosaleonor disse...

Sem dúvida que temos pano para mangas, se temos...
De facto a grande maioria das mulheres jovens de hoje, através da grande influência dos midea e da publicidade, tv e musica até, cantores e modelos e filmes semi ou pornográficos tem nesses conteúdos a imagem dessa mulher objecto, sex toy, etc.e pouco mais e estão completamente alienadas de que seja efectivamente uma MULHER. Gostaria de lhe enviar um texto muito interessante de um escritor francês..."a Mulher é rara" - mas creio que com este título pode encontra-lo facilmente no meu blog.
Um abraço


rleonor

Ná M. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lídia disse...

Vou lendo e tentando compreender.