As mulheres mais velhas pensam nos efeitos da idade como uma espécie de renúncia à vida...ou à perseguição do mito...enquanto as mais novas pensam ainda no amor...ou em ter filhos...para se sentirem realizadas.
Apesar de sabermos em que é que tudo acaba, nós as mais velhas, se não houver consciência e discernimento, persistimos no sonho de um amor qualquer que colmate o nosso vazio ou nos preencha. Sim, isso perdura também nas mais velhas...contra todo o sofrimento e dor das desilusões e mágoas se não tivermos passado a prova das mudanças e do amadurecimento.
Sem duvida que todo o movimento da mulher mais nova ou madura vai para a busca do amor antes de se buscar a si própria, coisa que nem lhe passa pela cabeça, pois a educação que recebeu e a cultura vigente baseia-se exclusivamente no mito do amor, do casamento, da felicidade e da até da fidelidade...são as canções, são os romances, são os anúncios, são os filmes...tudo aponta para uma felicidade a dois...estamos prisioneiras do mito secular do par e do casamento a que a mulher foi condenada e prisioneira durante séculos de negação de vida própria e de liberdade - e mesmo hoje em que ela acredita na emancipação e se acha livre trabalha o dia inteiro se não casar ou se não tem um homem ou se não tem um filho ela sente-se diminuída e incapacidade e inferior.
Estranhamos e revoltamo-nos se um presidente turco ou um árabe ou mesmo um católico diz que a mulher nasceu para dar filhos ao homem e ser sua esposa...que ela é incompleta se não for mãe...mas no fundo é isso que sentimos e estamos amarradas a esse modelo...só que a ilusão agora é a do amor livre...e da fidelidade, da felicidade a dois...tudo paradoxos...
Não nos lembramos de quando eramos realmente livres e não havia casamento e se obedecia apenas ao instinto de vida e de procriação, ao prazer sem tabus nem conceitos e nem sabemos como era a verdadeira mulher antes do patriarcado a colonizar...a submeter e a sonegar...
Mas hoje, haverá já alguma mulher ainda jovem que se busque a si mesma antes de procurar um homem? Creio que não...a ênfase é ainda toda essa, o mito do amor romântico...e da alma gémea - não do encontro consigo mesma! Saber quem é e o seu potencial...
Sei que não é fácil...perder essa compulsão, largar mão do ideal e do sonho...e escolhermo-nos a nós próprias antes de tudo, e mesmo quando escolhemos uma carreira, é a carreira e não nós...pois nos sacrificamos à carreira como nos sacrificamos ao casamento e aos filhos e ao marido...e portanto isso não muda nada...porque o que era importante era a busca da mulher em si, o sentido da sua vida por si e em si mesma, a busca da nossa essência e o nosso poder não apenas o de gerar vida...mas o de gerar consciência e amor dentro de nós...sem depender de ninguém nem de nada...mas isso mal começou a despontar na consciência das mulheres...e não sei quando virá o dia em que seremos capazes de viver em plenitude sem nenhum sucedâneo nem nenhum simulacro de vida ou de felicidade, sendo apenas UMA MULHER ...
Não, não sei qual é a senha nem o milagre que é preciso para cada uma de nós ACORDAR PARA SI MESMA e dar-se o valor real que se tem SEM ser por um valor acrescido...e viver em função de... certamente a vida se encarregará de o fazer, mais tarde ou mais cedo, dependentemente daquilo que se quiser da vida..
rosaleonorpedro
Sem comentários:
Enviar um comentário