O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, janeiro 25, 2017

VIRGINIA WOLF - UMA HISTÓRIA INCOMPLETA



Em 28 de março de 1941, aos 57 anos, Virgínia Woolf vestiu um casaco, encheu seus bolsos de pedras e se afogou no Rio Ouse. Antes do ato, após um colapso nervoso, ela deixou uma carta breve para seu marido.
Leonard era marido, amigo e editor de Virgínia. Talvez a palavra que melhor defina a relação entre os dois seja “amigo, já que a escritora não se interessava por homens. Algo curioso que marcou a vida deles foi a atitude de Leonard em relação aos livros que ele editava de Virgínia. Como a escritora nunca acabava de revisar suas obras, o marido “roubava” os livros e os mandava para a impressão. Virgínia continuava editando, até que um dia Leonard chegava e lhe dizia: “Pode parar de revisar. O livro está sendo impresso. Está pronto há semanas!”. Ela ficava furiosa, mas depois lhe agradecia, pois assim podia começar a trabalhar num novo livro.
Antes do suicídio, ela deixou para Leonard a carta que segue abaixo.


“Meu Muito Querido:

Tenho a certeza de que estou novamente enlouquecendo: sinto que não posso suportar outro desses terríveis períodos. E desta vez não me restabelecerei. Estou começando a ouvir vozes e não consigo me concentrar. Por isso vou fazer o que me parece ser o melhor.
Deste-me a maior felicidade possível. Fostes em todos os sentidos tudo o que qualquer pessoa podia ser. Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes até surgir esta terrível doença. Não consigo lutar mais contra ela, sei que estou destruindo a tua vida, que sem mim poderias trabalhar. E trabalharás, eu sei. Como vês, nem isto consigo escrever como deve ser. Não consigo ler.
O que quero dizer é que te devo toda a felicidade da minha vida. Fostes inteiramente paciente comigo e incrivelmente bom.
Quero dizer isso — toda a gente o sabe. Se alguém me pudesse ter salvo, esse alguém terias sido tu. Perdi tudo menos a certeza da tua bondade. Não posso continuar a estragar a tua vida.
Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes do que nós fomos.
V.”
in PENSAR CONTEMPORÂNEO

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