O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, março 18, 2017

NÃO HÁ HOMENS NEM MULHERES...


"A cultura heterossexual masculina é homoafetiva;
ela cultiva o amor pelos homens." *


“Dizer que um homem é heterossexual implica somente que ele mantém relações sexuais exclusivamente com o sexo oposto, ou seja, mulheres. Tudo ou quase tudo que é próprio do amor, a maioria dos homens hétero reservam exclusivamente para outros homens. As pessoas que eles admiram; respeitam; adoram e veneram; honram; quem eles imitam, idolatram e com quem criam vínculos mais profundos; a quem estão dispostos a ensinar e com quem estão dispostos a aprender; aqueles cujo respeito, admiração, reconhecimento, honra, reverência e amor eles desejam: estes são, em sua maioria esmagadora, outros homens. Em suas relações com mulheres, o que é visto como respeito é gentileza, generosidade ou paternalismo; o que é visto como honra é a colocação da mulher em uma redoma. Das mulheres eles querem devoção, servitude e sexo. A cultura heterossexual masculina é homoafetiva; ela cultiva o amor pelos homens.” *


Concordo com tudo o que autora diz, mas a premissa está diria errada de principio e no sentido do que isso significa desde a origem do patriarcado que fez do homem o Herói, o Conquistador, o Deus e o Mestre... e da mulher "a santa e a puta"...Assim, e logo à partida,  dividindo  as mulheres em duas espécies em função do Sistema como a geradora de filhos - e por outro geradora de prazer e corpo objecto  - ele criou um fosso entre o verdadeiro feminino que deixou paulatinamente de existir e o masculino que também foi desviado do seu feminino, exaltadas as qualidades de foça bruta e poder e todo o falocracismo das armas, desde as espadas ao canhão, prolongamento do Falo masculino, acabando por acontecer nas relações humanas  que as emoções nos homens foram diminuídas - um homem não chora e é considerado só homem quando mata (um simples filme de cow-boys nos mostra isso ) - ...e portanto não  há relação emocional nem no casamento (menos ainda com as prostitutas)  com as mulheres em geral e limita-se a cumprir o dever familiar com a "esposa" ou do prazer genital na rua ou no bordel, onde leva o filho adolescente para se fazer homem ...Sem dúvida que a mulher ao ser diminuída  como individuo desde menina quer aos olhos do irmão do pai ou  do amigo - desfeita e reprimida na sua expressão natural de fêmea e da sua sensualidade (é vergonha mostrar as pernas e deve comportar-se bem), se fecha na sua expressão instintiva de ser mulher tal como o homem é afastado das suas emoções e ridicularizado se for afeminado e assim ele  é levado a apenas a se expressar sexual e genitalmente de forma agressiva com qualquer mulher, ele não podendo ter sequer uma relação emocional com as mulheres em geral. E portanto, o homem, ou vive o mito ainda - o que resta do par romântico - ou depravadamente e sem qualquer sentimento a sexualidade casual a pornografia e a violação. E os nobres sentimentos - começando pelo mito do pai herói ele só se vê e reconhece nos homens seus iguais...e assim ao longo de séculos se afastou a mulher de sim mesma  e o homem da mulher - criando cada vez mais homossexuais e pederastas ou até pedófilos...
 

"Por outro lado como nos diz Valeria Solanas*" A individualidade feminina, da qual o homem é intensamente consciente, mas com a qual ele é incapaz de relacionar-se, de compreender ou alcançar emocionalmente, o assusta, o perturba e enche-o de pavor e de inveja. Assim, ele nega a individualidade das mulheres, e se dispõe a definir todo mundo, ele ou ela, em termos de função ou de uso, assegurando logicamente para si as funções mais importantes – médico, presidente, cientista – a fim de dar-se uma identidade, se não uma individualidade, e convencer, a si mesmo e às mulheres (teve melhor êxito convencendo as mulheres) que a função feminina é conceber e criar os filhos e relaxar, confortar e elevar o ego do homem; que sua função é, em suma, tornar-se trocável por qualquer outra fêmea."*

Temos  que dizer para perceber melhor este quadro, em relação ao texto apresentado, que também as mulheres heterossexuais vivem relações de emocionalidade entre mulheres... só que estas se invertem nos termos das emoções citadas em relação aos homens como homo-afectivas, pois elas raramente se manifestam ser de cumplicidade entre mulheres como com os homens e sim verificamos o seu contrário: as mulheres entre si odeiam-se e são rivais; Em vez de nutrirem  amor pelas outras mulheres nutrem o ódio...ou inveja. Em vez de admirarem, respeitarem, venerar e honrar, ou amar  as outras mulheres, elas odeiam-se entre si por causa da competição do macho e da forma como foram divididas entre a santa e a puta. Assim cada mulher que esconde a sua prostituta e inveja a outra e vice-versa, que se comporta como tal para ela, odeia-a com medo de esta se tornar uma rival, o seu outro lado recalcado... Assim, além de os homens heterossexuais amarem os homens, comparativamente, as mulheres entre si odeiam-se, a começar  pela mãe e irmã muitas vezes...e adoram o Pai o irmão etc.  Elas querem ser como o pai...e reivindicaram esses direitos e igualdade e hoje em dia temos uma mulher macho com um ego masculino a fazer o que os homens fazem...e continuando a odiar as outras mulheres. Em suma, são tudo vantagens para os homens...embora eles fiquem também a perder por não SABER A MULHER...

Dou só mais um exemplo: no caso dos filhos de mães modernas, por exemplo, divorciadas ou separadas, eles nunca conseguem ver a mãe como MULHER, tal como os pais...não conseguem perceber que ela tenha direito a uma vida própria ou a uma liberdade significativa seja sexual seja afectiva além do pai...poderão aceitar aparentemente e hoje em dia forçados  pela cultura moderna que dizia que sim, que a mulher teria esse direito, mas agora tudo isso está em vias de cair por terra e o que vemos é que eles no fundo nunca aceitaram...
lamento muito dizer isto as mães que amam tanto os filhos, mas mais tarde ou mais cedo a mulher vai acabar por perceber isso e mais vale estar prevenida. Eles não têm culpa...o Sistema é avassalador...e da mesmo maneira que desfeiteou a mulher e a tornou um objecto de prazer e de reprodução ao homem tornou-o um igualmente um objecto de produção  - um escravo do trabalho na verdade - e um objecto de guerra...Isto é o Sistema Patriarcal desde há milénios, o que mudou foi apenas a tecnologia e os bens de consumo e produção...
A única solução que eu vejo é realmente a Mulher Integral, a Mulher que consegue unir as duas mulheres em si - não ser mais uma ou outra, embora na balança das duas tenda agora a inclinar-se para o outro lado e a fazer representar a mulher mais como a puta do que a santa, quando ela se deve reunir ao centro - pelo fiel da balança -  acedendo a essa Consciência Ontológica, ao Feminino Sagrado, à sua Visão - Intuição, e recuperar essa Mulher instintiva que foi recalcada para dar lugar a mulher formatada pela sociedade secular - uma mulher objecto - e rever a sua História para lá do patriarcado.

rlp

* FRYE, Marilyn. “Politics of Reality: essays in feminist theory”. Trumansberg, N.Y.: The Crossing Press, 1983, p.135.

*IN MANIFESTO SCUM – VALERIE SOLANAS

1 comentário:

Ná M. disse...

EM ESSÊNCIA, QUER DIZER A MESMA COISA QUE DISSE Roswitha Scholz EM " O VALOR É O HOMEM". MAS NÃO É O HOMEM EM SI. O NOSSO AFETO/VALOR GIRA EM TORNO DAQUILO QUE OCULTOU A DEUSA E FEZ SURGIR A IMAGEM DO GUERREIRO CONQUISTADOR.
MAS NÃO SE PODE MENTIR PRO CORAÇÃO. POR ISSO QUE SÓ A DEUSA CURA.