O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, junho 03, 2017

O DESTINO FATAL DAS MULHERES...


O DESTINO FATAL DAS MULHERES e os romances...

Ontem comecei a ler por curiosidade o livro de uma mulher  - escritora - sendo uma história de famílias e nomes passada entre os seculos XIX e XX e o enredo todo entre a aristocracia e as casas fidalgas e os casamentos arranjados de acordo com os interesses das famílias nobres etc. isto em França e Portugal durante a 1ª grande guerra e narra a história de uma mulher lusa-francesa, aristocrata, que vive em Portugal mas vai para um Hospital francês como enfermeira ajudar os feridos de guerra, sendo casada com um oficial português que também estava na guerra e onde despoleta uma história de amor assolapada entre ela e um ferido terminal etc.
Li por inteiro as primeiras vinte páginas mas eram tantos os nomes, as descendências e as famílias - passando-se os enredos familiares entre os primeiros anos da Republica em Portugal e a guerra de 14/17 na Europa e toda essa carnificina humana em nome não sabemos de quê, ou sabemos e até pode ser que estejamos à beira de uma 3ª guerra mundial - tendo eu nascido (1946) no fim da 2ª grande guerra, vivi as reminiscências desse inferno...

Enfim acabei por dar um vista de olhos no livro todo e sei que não o vou conseguir por inteiro porque além de já nõa conseguir ler romances nem histórias, neste caso, toda esta saga de famílias e Nomes os seus descendentes e o enredo típico da época, não me dizem já absolutamente nada. Comecei a ler por curiosidade histórica, mas o que me impediu de continuar a ler o livro com mais atenção e interesse foi a reacção visceral à forma como a mulher era dominada, controlada e transacionada sem qualquer voto na matéria que não fosse aceitar a vontade do pai e servir os homens ao ponto da absoluta anulação e por ultimo ao amor de forma absolutamente cega e desvairada.

Não sei, o livro impregnou-me de uma dor e de uma revolta, de uma raiva incontida que acordei de manhã e só me apetecia chorar...e pensei como é que uma mulher escreve e perde tempo a contar uma história tão complexa e rebuscada, estudada e baseada em factos históricos e quiçá rigorosa, não tem  noção nenhuma  da mulher e da sua situação penosa e absurda imposta pelos patriarcado e nem sequer há um rasgo de um sentido profundo (intuição e percepção) do ser mulher e apenas tem em conta o velho enredo social e familiar...Sim, fatal como o destino e a família e deus e o Pai. Como se a mulher fosse esse produto consumado ao serviço do patriarcado sem nenhuma hipótese que não fosse seguir um destino traçado e condenada a ser esposa e mãe abnegada e fiel ao marido ou no caso das mulheres pobres e solteiras condenadas  a prostitutas ...etc.
Eu sei que há muitos livros assim...quase todos foram escritos por homens, e outros até por mulheres, mas neste caso o que me fez ficar irritada é que o livro é  escrito por uma mulher culta e não transparece em nada esse grito da mulher agrilhoada, mas apenas a paixão desesperada e sublimada que a mulher casada por conveniência, ainda buscava no amante ideal, o par romântico (o tuberculoso ou o canceroso?) fatalmentente condenada ao amor do Homem e do Filho ou de Deus, nunca dela própria...
Realmente isso irritou-me mesmo...porque na verdade tive esperança que houvesse mais essa consciência da Mulher em si...

rlp

Sem comentários: