O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, abril 26, 2018

OS CEGOS E O ELEFANTE...

TEXTO I

RESPOSTA A UMA AMIGA indignada por eu não celebrar o 25 de Abril...

Eu compreendo o seu desabafo, o seu espanto de eu não festejar este dia...e entendo porque fala com tanto enlevo de um sonho - mas devo dizer-lhe que eu vivi tudo isso de que fala com tanta paixão. Paixão tive-a eu e muito anos antes desse dia que sonhei como toda a gente sonha, eu lutei e falei e vivi entre trabalhadores e estudantes e gente pobre e por isso disse poemas e cantei com o Zeca Afonso em palcos e assembleias proibidas e só por dizer o que pensava e tão jovem tive por isso e tão pouco afinal de contas de fugir a Pide e fui para Paris como o meu irmão foi antes para fugir a guerra...sei isso tudo de cor e salteado - vivi muitos sobressaltos e andei nas manifestações, vi cargas policiais...morri de medo etc. Eu sabia toda a dor e miséria deste povo, sabia e sofria a sorte das mulheres! Mas... depois, desse mesmo dia que foi só um sonho - sim, foi bonito, comoveu-me -, mas nesse dia já eu tinha outros sonhos bem mais altos...e embora fosse algo inesquecível eu sabia já que não foi o povo que venceu - sabia que não houve revolução nenhuma; apenas se mudou de ideologia ou a mascara ao Sistema, mudou-se o nome e regras do jogo - mas nada de essencial e verdadeiro e humano -nada de dignidade de um povo livre e com identidade - se consolidou.
Sim, é verdade que temos liberdade de falar e ler livros...que já ninguém lê e os factos é que se em cada esquina havia um PIDE... não foi de um dia para o outro que em cada esquina havia um amigo...a canção é bonita e a festa também pá...mas a realidade a nossa hoje, passados estes anos "Abril Sempre" é só uma ideia, como de deus...é igual à fé, é um sonho, porque a miséria, os crimes e a mentira, a corrupção é ainda maior - é mais ou menos a mesma pobreza e falta de cultura e assim de que serve a liberdade de um Povo vendido e traído e se não há consciência humana e individual e se somos escravos do dinheiro e da fama e da televisão e das telenovelas e do futebol que é quem mais ordena etc. E nunca houve tanto egoísmo e tanto ódio, tanta guerra...
Vou confessar-lhe...eu hoje chorei ao ver o sonho de um Pais cair...chorei por não poder festejar com a mesma infantilidade e inocência com que lutei um dia e acreditei que o mundo mudaria...mas hoje...sim, passados mais de 50 anos, o que vejo? Diga-me o que vê?
Sim, os cenários mudaram...os carros as casas a tecnologia, as roupas e as máscaras, as linguagens... mas já não há valores e ninguém quer saber de ninguém. Só conta mesmo o dinheiro - olhe a sua volta e veja com olhos de ver em vez de continuar a sonhar...

rlp


Texto II
Ontem não comemorei o "25 de Abril Sempre"...?
Chorei de pena...
Sim, chorei por ver que a liberdade de uns é a prisão de outros, que a riqueza de uns é a pobreza de outros. E que mudam os rostos e as vontades, mas tudo continua na mesma... para quem pensa e espera por Paz verdadeira e Amor sem bandeiras, sem ódios, competição, sem armas químicas, sem mentiras, sem crimes, nem guerras...
Onde a diferença entre o fascismo de ontem e o socialismo de hoje?
(Não me vão atirar pedras os sonhadores?)
É isto "liberdade, igualdade, fraternidade"?
Não, não vejo em cada rosto a igualdade nem um amigo...
Vejo que somos todos diferentes de acordo com o dinheiro que temos, vejo os doutores e engenheiros e os banqueiros...vejo o mesmo desprezo pelos que nada tem ou pensam diferente...
O que eu vejo é a liberdade da corrupção, da alienação, da perda de identidade de um povo, do abuso, vejo o Pais endividado, vendido ao estrangeiro, vejo os assassínios diários de mulheres, veja a justiça julgar e roubar e enganar e os mesmos ladrões continuando donos de tudo etc., e vejo que os "políticos" só fazem intrigas entre si e lutam apenas por rendimentos e reformas em detrimento do povo que "desgovernam"...e mantem na mesma miséria...
Vejo...deles... Consciência nenhuma, muito egoísmo, vaidades, egos a brilhar na ribalta, muitos beijinhos e poemas mas pouca verdade...vejo fantasias e ilusões muitos oportunismos por todo o lado...
Mas e a Festa pá, a Festa para os turistas e os revolucionários de cravos?
Ah, desculpem-me os sonhadores e os jovens e os velhos que decoraram o folclore de abril como decoraram a tabuada...

Sim, eu chorei apenas por ver que a "liberdade" sem o RESPEITO E A DIGNIDADE DE UM POVO, sem Democracia de que e a quem serve?

rlp


HÁ 4 ANOS

OS CEGOS QUE QUERIAM VER O ELEFANTE...

 Há 4 anos vi e ouvi 4 mulheres de diferentes idades e gerações a falar sobre o 25 de Abril...eram elas a escritora Hélia Correia, a psicóloga Joana Amaral, a Juíza (?) Maria José Morgado e uma cientista de nome Maria...Foi muito curioso ver e ouvir como cada uma delas se situava e discutia o acontecimento exactamente e apenas de acordo com a sua visão...Claro cada uma tinha a sua...e todas eram unanimes em que a mulher já era livre e não havia nenhuma diferença entre ela e o Homem...
Para uma o 25 de abril era como um Portal...que se abriu assim de repente e tudo mudou como na sua ficção...para outra a ciência é que o grande motor do conhecimento e avanço e esperança para Portugal e para a outra só viu o esbanjamento e a corrupção a imunidade dos políticos - a mais nova, que não viveu nada do que foi antes de Abril, era só a teoria da psicologia e da ideologia bem pensante da esquerda livre...
Isto fez-me lembrar a história indiana dos 4 cegos que queriam "ver" um elefante...quando cada um tocou uma parte bem distinta do elefante como seja, a tromba, a barriga, a orelha ou a cauda...a discussão a seguir era toda baseada na experiência de cada um, sem dúvida, mas ninguém se entendia, nem nunca se iriam entender...Assim é a nossa realidade e o conhecimento dela...
Somos todos cegos às apalpadelas...


rlp

1 comentário:

Maria Adelina Lopes disse...

Grata, por ser voz de coragem.