O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, abril 29, 2018

UMA MULHER INTEIRA



NINGUÉM, NINGUÉM SABE

Ninguém pode adivinhar
O que eu digo quando estou em silêncio,
Quem eu vejo quando fecho os olhos,
Como me eu quando me sou,
O que eu procurar quando eu alcançar as minhas mãos

Ninguém, ninguém sabe.
Quando eu estou com fome, quando eu faço uma viagem,
Quando eu andar e quando estou perdido.
E ninguém sabe.
Que o meu caminho é um retorno
E o meu regresso é uma abstenção,
Que a minha fraqueza é uma máscara
E a minha força é uma máscara,
E que o que está vindo é uma tempestade.

Eles pensam que sabem
Por isso, deixei-os.
E eu acontece.

Puseram-me numa jaula.
A minha liberdade pode ser um presente deles,
E teria de lhes agradecer e obedecer.
Mas eu sou livre antes deles, depois deles,
Com eles, sem eles.
Estou livre na minha opressão, na minha derrota
E a minha prisão é o que eu quero.
A chave para a prisão pode ser a sua língua.
Mas a língua deles é distorcida em torno dos dedos do meu desejo,
E o meu desejo nunca pode comandar.

Eu sou uma mulher.
Eles pensam que são donos da minha liberdade.
Por isso, deixei-os.
E eu acontece.

JOUMANA HADDAD, jornalista, ensaísta, poetisa libanesa (n.1970)

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