NINGUÉM, NINGUÉM SABE
Ninguém pode adivinhar
O que eu digo quando estou em silêncio,
Quem eu vejo quando fecho os olhos,
Como me eu quando me sou,
O que eu procurar quando eu alcançar as minhas mãos
Ninguém, ninguém sabe.
Quando eu estou com fome, quando eu faço uma viagem,
Quando eu andar e quando estou perdido.
E ninguém sabe.
Que o meu caminho é um retorno
E o meu regresso é uma abstenção,
Que a minha fraqueza é uma máscara
E a minha força é uma máscara,
E que o que está vindo é uma tempestade.
Eles pensam que sabem
Por isso, deixei-os.
E eu acontece.
Puseram-me numa jaula.
A minha liberdade pode ser um presente deles,
E teria de lhes agradecer e obedecer.
Mas eu sou livre antes deles, depois deles,
Com eles, sem eles.
Estou livre na minha opressão, na minha derrota
E a minha prisão é o que eu quero.
A chave para a prisão pode ser a sua língua.
Mas a língua deles é distorcida em torno dos dedos do meu desejo,
E o meu desejo nunca pode comandar.
Eu sou uma mulher.
Eles pensam que são donos da minha liberdade.
Por isso, deixei-os.
E eu acontece.
JOUMANA HADDAD, jornalista, ensaísta, poetisa libanesa (n.1970)
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