O ABANDONO DO PRINCIPIO FEMININO
"Não raramente ouvimos a informação de que não há nenhuma diferença essencial entre homens e mulheres, excepto a diferença biológica. Muitas mulheres têm aceite esse ponto de vista e têm feito muito para alimentá-lo. Têm se sentido contentes em serem homens de sais e assim perderam o contacto com o princípio feminino dentro delas mesmas. Essa talvez seja a causa principal da infelicidade e instabilidade emocional hoje em dia. Ora, se a mulher está fora de contacto com o seu princípio feminino, que dita as leis da integração, não pode assumir o comando do que é, afinal de contas, o domínio de feminino, ou seja, o das relações humanas. E, até que o faça, não poderá haver muita esperança de ordem nesse aspecto da vida. Muitas mulheres sofrem seriamente na sua vida pessoal por esse abandono do princípio feminino.
São incapazes de relacionamentos satisfatórios, ou podem mesmo cair em neurose pela inadequação do seu desenvolvimento nessa área, que é das mais essenciais. Por essa razão, a relação de uma mulher com o princípio feminino dentro de si mesma não é um problema pessoal, mas também um problema geral, até universal para todas as mulheres. É um problema da humanidade."*
POQUE ESTÁ A MULHER FORA DO CONTACTO COM O SEU FEMININO?
A fragmentação da mulher é uma realidade vivida à flor da pele por todas as mulheres dos nossos dias e isso remonta ao mais recuado dos tempos que, tal como sabemos, elas foram divididas em estereótipos e diferentes facetas Deusa em eterna luta por Zeus no Olimpo...onde todas se digladiam e odeiam umas às outras em nome do zangão da tribo...que as fecunda...e domina assim como séculos mais tarde e da mesma forma a mulher judaico ou cristã foi dividida e fragmentada pelo catolicismo entre a santa e a puta, entre a Virgem mãe e a Pecadora arrependida - Maria Madalena ou a amante tentadora, aquela que seduz e fascina o homem casto e o tira do caminho de deus como em quase todas as religiões patriarcais…
Raramente a mulher é consciente dessa fragmentação em si, e portanto não percebe que o seu mal, a sua dor, o seu sofrimento na maior parte dos casos tem a ver com essa divisão interna, que gera a insegurança, as neuroses e a maior parte das suas doenças que são em geral consequência dessa cisão da sua natureza profunda e da sua psique e nem as supostas deusas do olimpo percebem que são as marionetas desse domínio patriarcal há séculos...
Toda a mulher é acusada de histeria ou de demência quando não consegue controlar a sua insatisfação ou incompreensão do seu ser e se sente em conflito íntimo com o que o seu coração lhe dita e as convenções que a razão masculina lhe impõe, desde cedo em casa e na escola e mais tarde na Universidade. Quando não aprende a ser submissa às leis do patriarcado que a anula na sua expressão profunda, indómita e selvagem, ela é votada ao ostracismo social ou aceita silenciar o seu íntimo regendo-se pelas regras e princípios dos homens actuando como a sociedade regida por eles lhe impõe.
Todas as mulheres de uma maneira ou de outra, ao longo da sua vida, sentiram essa fragmentação do seu corpo e o pior ainda a fragmentação da sua alma pois ao não poderem expressar a parte mais íntima e secreta do seu ser - que faria a fusão das partes divididas - e que é a sua consciência inata, a Voz do Útero, o seu centro de força e de integração, perde o direito ao seu ventre tomado como coisa do estado e propriedade da sociedade patriarcal. A mulher viu-se assim aprisionada e impedida de ter voz própria e interior, perdendo o acesso à Voz que é ressonância e Verbo, voz que vibra em consonância com a Lua que a rege assim como os mistérios da vida e da morte cujos rituais antigos ela dava corpo e alma.
A mulher verdadeira e autêntica, a mulher dos primórdios, aquela que era fiel ao Principio Feminino, a mediadora das forças cósmico-telúricas, é preciso que percebamos porque é que ela foi expropriada da sua identidade profunda ao longo dos séculos de domínio patriarcal e explorada como “mãe” e “amante” separada em duas funções opostas ou mesmo antagónicas, perdendo assim o sentido da unidade do seu ser, o seu equilíbrio, acabando por aceitar ser dividida em duas, como digo tantas vezes, entre a santa e a puta, e as suas variantes mais modernas, impedida da expressão livre e sagrada da sua sexualidade e erotismo, condenada pela Igreja e pelos padres, à castidade e clausura ou então a prostituição... **
**Rosa Leonor Pedro via Mulheres e Deusas Blogue - republicando
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