"O homem é com efeito um ser incompleto, e ele apercebe-se disso. O seu medo e a sua atracção pela gruta obscura (o vazio de onde vem), o seu medo e a sua vertigem diante da morte(o vazio para onde ele irá), tornam-no um ser frágil que procura a qualquer preço uma segurança. Essa segurança é a mãe, tanto para o homem como para a mulher. (...)
O homem está pois biologicamente sujeito à mulher quer ele queira quer não. E toda a mulher é uma mãe, real ou potencial. Ele é o contido (contenu) enquanto que a mulher é quem contém (contenant): isso constitui um estado de inferioridade muito claro para o homem, que passa por isso o seu tempo a negar esta realidade para se provar a si próprio que é superior. É o que explica a acção masculina, o facto de que os homens sejam dotados para a acção, para a violência, para o combate. Esta acção é o único meio que lhes resta para tentarem se afirmar.
E se o homem é o contido, portanto um ser inferior, ele arroga-se ao direito de ser superior mostrando a todo o preço que a sua força activa é a única capaz de proteger a espécie. Ele soube mesmo convencer a mulher desta superioridade, simbolizada pelo reconhecimento do pénis do rapazinho ao nascer, pela sua mãe, ou por qualquer outra mulher que ajude no parto. O famoso grito: “é um rapaz!”, repetido por gerações, diz bastante do seu significado.
No entanto, a que contém (ou abarca), a mãe, digamos a mulher, é ela própria a realização do Paraíso. Ela o concretiza, esse Paraíso, sob os dois aspectos de uma só realidade: ela “contem” (engloba) a sua criança e o seu amante. Quando se ousa afirmar que todas as relações entre homem e mulher, sejam elas quais forem (conjugais, filiais ou outras) são necessariamente relações incestuosas entre mãe e filho, estamos a provocar as críticas mais ásperas, e fazer-se passar por obcecado. No entanto... "
in "La Femme Celte” de Jean Markale
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