O CORPO FEMININO
COMO OBJECTO MÉDICO E "MEDIÁTICO"
"Quando se fala das mulheres e para as mulheres, o discurso sobre a corporalidade parece tomar rumos precisos: o corpo parece ser a ancora da mulher no mundo, sua razão de ser, para si mesma e para o outro, para o desejo do outro. Essa é a lógica que orienta o discurso dos midea e se torna visível tanto no discurso da publicidade, quanto dos programas femininos . Essa equação mulher=corpo se reafirma nos programas femininos, onde abundam médicos de especialidades diversas para falar de tudo aquilo que falta ou sobra na insubordinação fisiológica feminina”
(Excerto de um Estudo de L.Graciela Natansohn
Da Faculdade de Tecnologia e Ciência)
UM TESTEMUNHO
"A violência doméstica de que agora tanto se fala (que não é só doméstica e que há muito existe) é apenas a ponta do icebergue, um aspecto visível de uma violência global: uma violência moral, umas vezes quase subliminar, outras, tão descaradamente manifestada e assumida como normal, que consegue envolver-se numa capa de aceitação e/ou conivência social. Um todo a necessitar de ser urgentemente desconstruído e refeito.
Em início de adolescência, ouvia a minha mãe: “Não vistas isso, olha que os homens…”. Na minha inocência (e convencida de nada de mal estar a fazer) e na minha precoce auto-afirmação, desobedecia, e vestia o que a minha criatividade e gostos da altura me indicavam. Mas… as consequências foram duras (embora consideradas normais e, portanto, a “responsável” de tais situações… só podia ser eu, nós, todas as mulheres que… não obedeciam, ou que se achavam seres humanos livres). As jovens adolescentes eram facilmente insultadas, tratadas de prostitutas, abusadas fisicamente (caso percorressem algum caminho mais isolado). Tudo isso era frequente, toda a gente o sabia, nada se fazia. Uma saia curta simbolizaria uma vontade feminina de atiçar instintos mais que primários masculinos e, assim sendo, as responsáveis do que quer que fosse, eram sempre as gentes femininas. Assim, noutros… sítios, os homens embrulham as mulheres em tchadores, burqas e etc., para não os tentarem, de tão indefesos. A diferença entre o que está na base destas atitudes, no fim de contas, não é nenhuma, a não ser em detalhes.
(a continuar)
Paula Alcarpe, 19-2-19
Quadro Lena Gal
Sem comentários:
Enviar um comentário