O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, fevereiro 22, 2019

QUANDO SE FALA DE MULHERES



O CORPO FEMININO 
COMO OBJECTO MÉDICO E "MEDIÁTICO"

"Quando se fala das mulheres e para as mulheres, o discurso sobre a corporalidade parece tomar rumos precisos: o corpo parece ser a ancora da mulher no mundo, sua razão de ser, para si mesma e para o outro, para o desejo do outro. Essa é a lógica que orienta o discurso dos midea e se torna visível tanto no discurso da publicidade, quanto dos programas femininos . Essa equação mulher=corpo se reafirma nos programas femininos, onde abundam médicos de especialidades diversas para falar de tudo aquilo que falta ou sobra na insubordinação fisiológica feminina”

(Excerto de um Estudo de L.Graciela Natansohn
Da Faculdade de Tecnologia e Ciência)


UM TESTEMUNHO

"A violência doméstica de que agora tanto se fala (que não é só doméstica e que há muito existe) é apenas a ponta do icebergue, um aspecto visível de uma violência global: uma violência moral, umas vezes quase subliminar, outras, tão descaradamente manifestada e assumida como normal, que consegue envolver-se numa capa de aceitação e/ou conivência social. Um todo a necessitar de ser urgentemente desconstruído e refeito.
Em início de adolescência, ouvia a minha mãe: “Não vistas isso, olha que os homens…”. Na minha inocência (e convencida de nada de mal estar a fazer) e na minha precoce auto-afirmação, desobedecia, e vestia o que a minha criatividade e gostos da altura me indicavam. Mas… as consequências foram duras (embora consideradas normais e, portanto, a “responsável” de tais situações… só podia ser eu, nós, todas as mulheres que… não obedeciam, ou que se achavam seres humanos livres). As jovens adolescentes eram facilmente insultadas, tratadas de prostitutas, abusadas fisicamente (caso percorressem algum caminho mais isolado). Tudo isso era frequente, toda a gente o sabia, nada se fazia. Uma saia curta simbolizaria uma vontade feminina de atiçar instintos mais que primários masculinos e, assim sendo, as responsáveis do que quer que fosse, eram sempre as gentes femininas. Assim, noutros… sítios, os homens embrulham as mulheres em tchadores, burqas e etc., para não os tentarem, de tão indefesos. A diferença entre o que está na base destas atitudes, no fim de contas, não é nenhuma, a não ser em detalhes.

“Não à violência-não à dor-não ao desamor”, dizia-se, há alguns dias, numa manifestação pelas vítimas de violência doméstica. A realidade é que há desamor a mais, e a fonte da violência… está nele. Por isso, não basta dizer que há homens a matar mulheres… Há uma violência moral demasiado presente ainda, e que pode provir de homens das mais variadas origens e nível de educação. E é esse novelo que se deve desenredar. Com persistência e sem ódio."

(a continuar)

Paula Alcarpe, 19-2-19 

Quadro Lena Gal 

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