O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, abril 04, 2004

"SE NO LIMITE É POSSÍVEL GOVERNAR SEM CRIMES, EM CASO NENHUM É POSSÍVEL GOVERNAR SEM INJUSTIÇAS. Trata-se porém de dosear os primeiros e as segundas, de as cometer apenas por fases. A fim de que no-lo perdoem, teremos de saber fingir a cólera ou a loucura, dar a impressão de sermos sanguinários por inadvertência, visar arranjos atrozes com uma aparência exterior de despreocupação. O poder absoluto não é coisa fácil: só se destinguem dentro deles os cabotinos ou os assassinos de grandes proporções. "(...)

"NA ESCOLA DOS TIRANOS"
E. M. CIORAN


O LABIRINTO DA MENTE HUMANA
Quando li a entrevista de J. Saramago em que se destacavam títulos como: “se não houver uma revolução das consciências o mundo está perdido” tive esperança de que ele estivesse a falar de facto de uma consciência individual, humana e não meramente política...Mas ao assistir ao lançamento do seu livro e ao debate de “políticos”, percebi que se tratava ainda e apenas de uma consciência política ou económica e social e nada de Consciência Psicológica - que tanto falta aos políticos! -e que tudo andava não á roda do “uivo do cão” mas do rabo do mesmo...e que todos continuamos a ladrar enquanto a caravana passa...
Nem uma só vez nenhum dos famosos homens em palco falaram de qualquer Consciência ou do SER em si (se calhar para eles ainda é uma alienação burguesa, pensar no SI Mesmo!?) que prova o quão longe estão dessa noção essencial!

Associei ainda a noção de “uivar” a algo profundo e “selvagem”, a um acordar do ser ontológico, a um grito do SER interior de revolta genuína em termos quase metafísicos, mas logo, e à medida em que vou lendo o livro, verifico que não passa das circunstâncias de luta dentro do labirinto mental e material da vida sem qualquer rasgo ou voo significativo da alma...E que ele não encontrou ainda o famoso Fio de Ariane...
Afinal o livro, ainda que muito bem escrito, só trata de política e partidos, de idéias e conceitos...

E senti uma enorme dor de alma porque Saramago poderia ser a voz da esperança de um mundo equilibrado entre os dois pólos feminino e masculino, material e espiritual...mas não. Ainda não é o Ensaio da Lucidez...(lembremos que lucidez vem de Lux...). Não há rasgo de Luz interior: ainda é só a Cegueira dos Homens que não querem ver mais do que a sua sombra e brincam aos partidos, às políticas e às guerras uns contra os outros neste inferno mental de mal dizer e ódio que é este mundo governado por homens pequeninos e carros grandes, (com mulheres fantásticas e caladas na fila da frente,) a secular “escola de tiranos” tanto à esquerda como à direita. Cegos pelo Poder seja ele económico intelectual ou qualquer outro!

Pensei que o velho Saramago no silêncio da Ilha e que tem uma mulher extraordinária pudesse Ter sido iniciado aos mistérios da Alma e Ter-se feito sábio. Mas não, continua fiel a um partido de atrasados mentais e a uma utopia de Revolução exterior...dividido entre os pobres e os ricos... entre o bem e o mal!
Sem saber que a nova aurora anuncia um mundo acima de toda a dualidade!
É lá que está a verdadeira consciência que nos poderá salvar.


NOTA:
Se pudesse aconselhá-lo-ia a ler HISTÓRIA E UTOPIA de E. M. Cioran. Esse sim um homem Lúcido em toda a acepção da palavra. Esse sim o céptico que viu o mundo a uma lupa e não se deixou enganar por nada...

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