O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, junho 10, 2004

...a tentação de parcifal...


COMO UM ESCRITOR VIA HÁ MEIO SÉCULO AS MULHERES


Há mais de trinta anos que o livro OFÍCIO DE VIVER de César Pavese foi meu livro de cabeceira. Acompanhou-me em Paris nas minhas andanças já esquecidas. Lembrei-me dele agora porque em alguns Blogues o tenho visto citado, creio que pela reedição recente da obra...
Há trinta anos eu era quase uma adolescente ainda...
Fui desfolhar o livro e ver o que havia nele sublinhado...
Isto, por exemplo:

“Uma das leis cómicas da vida é a seguinte: é amado não quem dá, mas quem exige. Quer dizer, é amado aquele que não ama, porque quem ama dá. E compreende-se: dar é um prazer mais inesquecível do que receber; a pessoa a quem damos, torna-se-nos necessária, quer dizer que a amamos.
Dar é uma paixão, quase um vício. A pessoa a quem damos, torna-se-nos necessária.”
(...)

Mais à frente:

“Não sei o que fazer com a mulher dos outros”
“Quando uma mulher casa, pertence a outro; e quando pertence a outro, nada mais há a dizer-lhe.”
Uma mulher, com os outros, ou é a sério ou brinca. Se é a sério, então pertence a outro e basta; se brinca, então é uma vaca e basta.”

“As mães”, dizem os latinos ao falarem das bacantes. Não é estranho? Não se pensarmos que a orgia báquica é um ritmo de iniciação dos tempos do matriarcado.”

E ainda algures...

"Estás só. Ter uma mulher que fala contigo não é nada. A única coisa que conta é o abraço dos corpos. Porquê, porque é que não o tens?”
“Nunca o terás”. Tudo se paga.

“E quem tem uma, procura outra (...) e assim sucessivamente.”
Enquanto quiseres estar só, elas virão à tua procura. Mas logo que estenderes a mão, não te “ligarão nenhuma”. E assim sucessivamente”

“Também este ano acabou. As colinas, Turim, Roma. Esgotaste quatro mulheres, publicaste um livro, escreveste belos poemas (...)”

Diz ele: “Odiamos os outros porque nos odiamos a nós próprios”
e ainda: “As mulheres são um povo inimigo, como o povo alemão.”

- PORQUÊ, PERGUNTO EU ESTE AMOR E ÓDIO E ESTA POSSE?
A MULHER COMO INSTRUMENTO DE PRAZER E PERTENÇA DO HOMEM SEJA DO OUTRO OU MINHA E QUE SE BRINCA É VACA...
O que é que mudou de facto em trinta e tal anos, como é que os homens hoje em dia vêem as mulheres e as mulheres se vêem a si próprias?



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