CESARE PAVESE:
A luta e a contradição do Homem sem a Mulher Amada
(...)
Porque é que quase toda a gente sofreu uma desilusão de amor? Porque o próprio amor, sobre o qual se lançaram com entusiasmo, devia traí-los – por causa da lei que diz que só se obtém o que se pede com indiferença.
Para obter um amor trágico é necessário hablilidade. Mas são precisamente os incapazes de habilidades que têm sede de amor trágico.
Um amor interessa à pessoa amada por causa das coisas que traz consigo. É por isso que quem tenta amar, sincera e integralmente, quase nunca teve tempo para acumular as coisas (personalidade, riquezas, força, meios, qualidade, etc.) que fariam aceitar o seu amor.
Quanto ao amor, ninguém sabe o que fazer dele. E sejamos justos: que coisa é o amor senão a líbido de um macaco?
Que nunca conseguiremos plantar-nos no mundo (um trabalho, uma normalidade), é evidente.
Que nunca conquistaremos uma mulher (nem um homem), é manifesto, tanto pela precedente fraqueza como por aquela que sabes.
(...)
Para que serviu um grande amor?
Para descobrir todas as minhas taras, para pôr à prova a minha têmpera, para que eu pudesse julgar-me. (...)
Nada me salvou. (...)
Cheguei ao ponto de esperar salvação do exterior, e não existe cegueira maior: penso ainda que , com ela, poderia viver e lutar. Mas ela encarregou-se de justificar esta ilusão: riu-se-me na cara e poupou-me, assim esta ultima e penosa experiência.
“...Estamos cheios de vícios e tiques e de horrores. Nós os homens, os pais...”
O SUICÍDIO:
"Basta um pouco de coragem.
Quanto mais a dor é determinada e precisa, mais o instinto da vida se debate, e cede a idéia do suicídio.
Parecia fácil, pensando nisso. Entretanto mulherezinhas o fizeram. É preciso humildade, não orgulho.
Tudo isso dá nojo.
Não palavras. Um gesto. Não escreverei mais."
Em 27 de agosto ele se mata, ingerindo barbitúricos num quarto de hotel, em Turim.
Os motivos que levaram Cesare Pavese a esse trágico final podem ser inúmeros, mas serão, sempre, suposições. O certo - como em todos os suicídios - é a vivência de uma situação limite, um estado para além do qual a possibilidade de continuar a viver é algo inaceitável. No caso do escritor italiano, em 25 de março de 1950 ele descreve uma de suas prováveis razões: "Ninguém se mata pelo amor de uma mulher. As pessoas se matam porque um amor, qualquer que seja, nos revela nossa nudez, miséria, inofensividade, nulidade.
in Digestivo Cultural
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