in OFÍCIO DE VIVER (cÉSAR pAVESE)
NÃO O AMOR, MAS OS ARREDORES É QUE VALE A PENA...
A repressão do amor ilumina os fenómenos dele com muito mais clareza que a mesma experiência. Há virgindade de grande entendimento. Agir compensa mas confunde. Possuir é ser possuído, e portanto perder-se. Só a ideia atinge, sem se estragar, o conhecimento da realidade.
Ser puro, não para ser nobre, ou para ser forte, mas para ser si-próprio. Quem dá amor, perde amor.
Abdicar da vida para não abdicar de si próprio.
A mulher uma boa fonte de sonhos. Nunca lhe toques.
Aprende a desligar as ideias da voluptuosidade e de prazer. Aprende a gozar em tudo, não o que ele é, mas as ideias e os sonhos que provoca. Porque nada é o que é: os sonhos sempre são os sonhos. Para isso precisas de não tocar em nada. Se tocares o teu sonho morrerá, o objecto tocado ocupará a tua sensação.
Ver e ouvir são as únicas coisas nobres que a vida contém. Os outros sentidos são plebeus e carnais. A única aristocracia é nunca tocar. Não se aproximar - eis o que é fidalgo.
in O livro do Desassossego
Fernando Pessoa
Dois autores latinos contemporâneos, e o seu "desejo" da Mulher...
Um elege a Mulher como fonte de sonhos...outro sonha a Mulher só sua...
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