O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, junho 30, 2004

TODOS OS HOMENS SÃO MAIS OU MENOS INVEJOSOS;
OS POLÍTICOS SÃO-NO ABSOLUTAMENTE

E.Cioran

(...DÓI-ME A ALMA...UM TRAÇO LENTO DE FUMO ERGUE-SE E DISPERSA-SE LÁ LONGE...UM TÉDIO INQUIETO FAZ-ME NÃO PENSAR MAIS EM TI...
TÃO SUPÉRFULO TUDO! NÓS E O MUNDO E O MISTÉRIO DE AMBOS.)


Ah, é um erro doloroso e crasso aquela distinção que os revolucionários estabeleceram entre burgueses e povo, ou fidalgos e povo, ou governantes e governados. A distinção é entre adaptados e inadaptados: o mais é literatura, e má literatura. O mendigo, se é adaptado, pode amanhã ser rei, porém: perdeu com isso a virtude de ser mendigo. Passou a fronteira e perdeu a nacionalidade.
(...)
Nós na sombra, entre os moços de frete e os barbeiros, constituimos a humanidade.
De um lado estão os reis, com o seu prestígio, os imperadores com a sua glória, os chefes do povo com o seu domínio, as prostitutas, os profetas e os ricos...Do outro estamos nós - o moço de fretes da esquina, o dramaturgo atabalhoado William Shakespeare, o barbeiro das anedotas, o mestre escola John Mílton, o marçano da tenda, o vadio Dante Alighieri, os que a morte esquece ou consagra, e a vida esqueceu de consagrar.


in O LIVRO DO DESASSOSSEGO
Fernando Pessoa

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