"AS BATALHAS NAVAIS"
A QUE OS HOMENS GOSTAM TANTO
DE BRINCAR, e as suas espadas afiadas...
(Bravo Nuno Pacheco!)
"A caricata batalha naval em que Portugal se envolveu por causa da verve propagandística do barco holandês não lembraria a ninguém de juízo, quanto mais de leis. Não é por ela que os abortos vão diminuir ou aumentar, não é por ela que a moral vai ser aqui mais ou menos respeitada, não é por ela que diminuirão os cortejos - por terra, que esses pouco têm de marinhagens - às abortadeiras de serviço de norte a sul ou nas clínicas da vizinha Espanha, com clientes assíduas do lado português. Tudo se manterá na mesma, depois deste braço-de-ferro inaudito.
Enquanto isso, cruzam-se botes e barcaças na ânsia de uma imagem, de uma saudação de incentivo, de uma declaração vibrante de condenação ou apoio. Tamanho fogo de vista aquático não deve fazer-nos esquecer (e não é preciso citar Saint-Exupéry) que o essencial é quase sempre invisível aos olhos. E que, neste caso, o que é visível aos olhos é absolutamente acessório: a propaganda, o espectáculo, o desafio às posições políticas mais conservadoras transformado numa pequena cruzada, apoiada à esquerda e entre os sectores mais liberais ou tolerantes mas abominada de tal modo à direita que dela se fez uma espécie de Aljubarrota marinha, só faltando os cruzados e as invectivas contra tentações do demónio.
(...)
Abortar não é um cruzeiro de férias, nem coisa para resolver no mar alto. É uma decisão grave, difícil, dramática, torturante. Ninguém aborta por prazer, embora a grande maioria dos abortos que em Portugal ainda se fazem (à margem e em absoluta secundarização da lei) pudessem ser evitados com uma política séria de responsabilidade social e planeamento familiar. Tudo isto vive sem barcos. E viverá. Quando as águas amansarem, voltaremos ao que havia antes: um Portugal onde a lei prega uma coisa e onde muitas mulheres fazem outra (mesmo algumas das que na rua gritam a favor da vida). É mau mas não se vê. Porque não é barco nem flutua, mesmo que a pouco e pouco nos vá afundando." Nuno Pacheco
EDITORIAL IN PÚBLICO (excerto)
O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
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