"As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida e abandonada. A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas na relva não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlates. A decomposição era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos enviados pela vida mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheiro adocicado... O Jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno."
Clarice Lispector
Mais do que este pequeno excerto de clarice apetecia-me este jardim e não estar onde estou agora...rodeada de livros e ao computador da livraria...Não, nem sequer penso ou tenho medo do inferno, apesar de ver e saber como as coisas apodrecem e há crianças a morrer à fome...sinto a náusea, mas um jardim assim lavaria a minha alma da cidade.
O apelo da Natureza é em mim agora mais forte do que nunca...
Não é por causa das férias, não, é um desejo para sempre...
1 comentário:
Muito lindo este trecho de Clarice!
Poderia dizer-me de que livro De Clarice Lispector foi extraído???
Obrigada e parabéns pelo blog.
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