O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, agosto 06, 2007

Uma palavra mágica absoluta...


Já uma vez aqui disse, às vezes, tenho uma vontade irreprimível de escrever ou transcrever qualquer coisa definitiva...
Uma palavra mágica absoluta...
Olho as centenas de livros à minha volta, abro dezenas, mas não encontro aquele que tenha a frase ou o mantra decisivo, o abre "cadabra" da alma ou do espírito...A chave ou o som que automaticamente me colocasse do outro Lado do espelho como a Alice...

Ah sim, o Amor...mas como o salto quântico para esse estado alterado, cheio de graça, a ascensão...que não dependa de outra pessoa ou de nenhuma circunstância?

A meditação, o Nome Santo...o Segredo...o desejo puro o mais profundo sentimento...

Uma palavra mágica absoluta...

Nenhum escritor, nenhum poeta a disse?


O LIVRO DESCONHECIDO

Estou à procura de um livro para ler. É um livro todo especial. Eu o imagino como a um rosto sem traços. Não lhe sei o nome nem o autor. Quem sabe, às vezes penso que estou à procura de um livro que eu mesma escreveria. Não sei. Mas faço tantas fantasias a respeito desse livro desconhecido e já tão profundamente amado. Uma das fantasias é assim: eu o estaria lendo e de súbito, a uma frase lida, com lágrimas nos olhos diria em êxtase de dor e de enfim libertação: "Mas é que eu não sabia que se pode tudo, meu Deus!"


clarice lispector
in "A Descoberta do Mundo" Ed. Rocco - Rio de Janeiro

Juro que só encontrei esta frase depois de ter escrito o meu texto...

6 comentários:

Anónimo disse...

Sou muito nova, trinta anos. Sinto-me como se tivesse oitenta anos. Senti paixão e amor na minha vida. Tive-os e vive-os intensamente. Vive-os rápido em uma década, um doloroso e atávico o outro calmo e preenchido. Pelo meio umas aventuras entre os dois da paixão e do amor. Fiel até à cova e, encornada também até à cova.
Menina sonhadora desde sempre com um casamento. Sonhava acordada e a dormir com o vestido de noiva e o cavalheiro ao seu lado. Nunca vislumbrei a vida a dois e nem me perguntei ainda, mas o casamento o vislumbrava intensamente. A primeira paixão, contra tudo e todos e encornada até aos infernos, alimentava o casamento na cabeça. Acreditava que esse acto era a prova do amor d´outro. Lutei até às últimas consequências, até não existir mais seiva viva dentro. Como não se pode lutar contra um demónio a vida inteira e morrer por ele, retirei-me colocando um ponto final contra o meu desejo. Um outro surgiu, não tinha sementes de paixão. Trazia o sal do amor. Fui feliz, porque deslumbrada pela nova experiência tão oposta à outra. Na minha cabeça, o casamento já não se sonhava e muito menos pensava nisso. Amei durante uns anos, cada qual na sua casa. Um dia, fui pedida em casamento. Rejeitei ferozmente a ideia qual a sensação de susto que sentia. Fugi e dei como fim o romance, ainda que o amor me habitasse.
Um dia, olhei-me e olhei para dentro e vi-me sem sonhos, sem ideais, sem alguém. Não me assustei e, sim assustei-me por não ter mais sonhos, por não procurar mais um Outro. Como se tivesse percebido que o que me movia era um Outro; era pelo Outro que existia. Existindo o Outro, tinha razões para correr, para idealizar, para construir e sonhar muito. Por isso deixei que me levassem tudo, a garra da aventura, a loucura dos sentidos, os sorrisos infantis, as aspirações, a vontade…
Só de facto percebi isso, quando olhei ao redor e para mim mesma e estava só. Completamente só. Isso não me assustou, porque para minha surpresa percebi que o meu maior medo tinha sido vencido inexplicavelmente. O terror de ver-me sozinha era um monstro que me degolava diariamente. O desassossego era constante, quando finalmente vi-me só e olhei-me já não tinha monstro com que lutar. Com que ia lutar? No lugar do monstro, surgiu outra coisa, algo que nunca pensei: «O que fizeste de ti? Para onde te levaram os sorrisos, a vontade correr?»
Pelo meio, levantou-se todo o passado. Como se agora tivesse uma camera na mão e estivesse a filmar tudo. Todos os cantos surgiam, até aqueles que nunca suspeitei, surgiram como gaivotas deformadas. O pior de tudo foi ver-me ao serviço dos outros, somente para eles e por eles. Eu nunca estive lá. Estava na medida em que os outros queriam de mim, mas ninguém me ouvia a mim, só o que tinha para eles, ou eles julgavam que eu tinha. Somente eu os ouvi. Quanto mais filmava, mais eu via a bagagem que carregava às costas. Uma bagagem cheia de informações de todos, mas não via a minha bagagem. A minha bagagem estava vazia, escura. Não enchera a minha própria bagagem. Passei a vida a construir a bagagem dos outros e que quando satisfeitos ou atingidos os seus fins, era colocada de fora como algo indispensável. Os mesmos olham agora, como se eu fosse alguém que não fez nada. No entanto, quando olho para eles de longe, vejo o que eles eram até chegarem à minha vida e o que se tornaram depois.
Olhando este filme, quando me deparei na colina da vida e olhei para baixo vi o que fiz de mim, tudo a troco de amor e atenção. Mais assustador foi ver a minha entrega desmesurada aos outros. Tal como um camaleão mudava de forma e pensamento para agradar, porque ia de encontro à estrutura do outro. Fui um excelente actor, empreiteiro, conselheiro e um médico fabuloso… Ia sempre de encontro às necessidades, quando alguma coisa sucedia, lá estava eu como se me transplantasse por artes mágicas. A filmar, percebi a ilusão de que achava que os outros me viam e também tomavam conta de mim… O que vi, foi sim que, sempre que estava precisando de alguma coisa, de me ensinarem alguma coisa, ou fazerem alguma coisa não existiu ninguém e muito menos alguém ouviu. Antes, ia-me embora a pensar em mais coisas dos outros.
Depois de uns tempos a filmar sem parar, contra a minha vontade, olhei-me e vi mais sem sonhos, sem desejo de sexo ou sem libido, sem vontade de fazer alguma coisa, sem inspiração criativa, sem vontade de conhecer pessoas. Vi-me no ponto nadir, onde não existe nada. A sensação de estar morta, ainda que viva. O coração já não sente impulso para sentir a vida. Um coração que sempre viveu emocional e que reagia por acção dos outros. No estado de Só, veio o conhecimento de que existe dois corações. Um coração emocional e um coração chamado vida e que não depende de ninguém e de nada, depende simplesmente da vida que insufla vontade e alegria de viver. Mas, este coração não se conquista assim que temos consciência, parece-me que existe algo mais profundo que faz com que seja necessário algo para que ele nos transforme, para que ele modifique a estrutura antiga e o coração emocional. Este coração não é dado por ninguém, não vem com um amor pelo outro, ou por alguém que nos ame. Por isso é um paradigma falar sobre ele, porque não sei nada dele, somente que fiz esta distinção, nem sei em que análise psicológica escrita me fui deparar com ele.
Achar que alguém nos vem trazer vida, acordar o coração como sempre pensei e não tinha consciência é um equívoco que nos tolda a vida, que nos faz entregar demais o melhor de nós sem que haja retorno em libertação. Quando se coloca em movimento a vida dos outros e a nossa anda para trás e se perde qualidades, algo está “errado” nesta atitude e conduta… Apesar disto parecer ou soar a egocentrismo, não o é. O egocentrismo é quando alguém tem só para si as coisas e vai ampliando tudo, fazendo crescer todas as coisas que recebeu e que não doa nada de si. Resumindo, o egocentrista só recebe e faz florescer o que recebe.

No fim disto, o que me habita de mim? Assim sem nada, vazia de mim e cheia de outra coisa que não meu e que tenta comandar-me, como se tratasse de um exercito que impõem suas emoções, suas morais, seus lemas… e que acha que devo trabalhar para eles, mesmo que não consiga fazer nada da minha vida e nem ter meu próprio sustento. Além de ter que levar com as criticas de que não faço nada!!! Estoirei, é certo!!! Quero voltar a viver e voltar ao mundo e não sei como, porque uma coisa sei, não quero morrer, porque morta já estou ainda que esteja dentro de um corpo feito de carne que vive.
Desculpe-me este desabafo. Mas ter tinta anos e ser tão jovem, estar morta para o desejo, para a profissão, para a libido, para os outros não é algo muito normal. Acho que morri em vida, sem o meu corpo físico ter morrido.

Atentamente.

rosaleonor disse...

Que dizer-lhe minha amiga? Sei essa história de cor, vi esse filme tantas vezes na minha vida e na vida de tantas mulheres, sofri na pele a história das mulheres da minha família, fugi dela...e por isso luto por uma consciência que nos liberte e no seu caso, congratulo-me pela sua consciência e ainda tão nova já saiba que é só que se caminha para dentro de nós ao encontro da Deusa. E aí centradas e senhoras de nós não mais seremos em função dos outros por anulação, mas viveremos o serviço ao próximo por opção e amor...
Não tenha medo dessa morte aparente e busque o seu ser profundo, vá ao encontro não do "outro" mas da outra mulher que habita em si mesma pois só uma mulher completa pode amar sem se anular ou perder no amor dos outros...
Escreva-me sempre que quiser.

Um enorme abraço e coragem para o caminho.
Procure as Mulheres que correm comn os lobos" - leia o livro!!!
Vai ajudá-la e muito.
Rosa Leonor

Paula Marinho disse...

Minha querida Rosa, peço-lhe licença para adir meu recado ao seu pois essa história também é minha...
E, amiga; é como disse a Rosa: leia o livro, foi ele que me ajudou quando também eu vivi em parte a sua história... leia-o com os olhos da alma, ouça-o com o coração, e descubra que você só está nascendo... está chegando para uma vida inteira, íntegra e completa. Sei que seu momento é de dor mas a vida explode em você e viver é belo, principalmente quando somos capazes de nos reconhecer nesse processo de vida-morte-vida pelo qual você está passando, sinta a força que transporta em si mesma, deixe-a jorrar. Volte aqui no blog da Rosa, leia suas postagens (por experiência própria, têm-me feito mto bem), faça seus comentários,leia os das outras pessoas, observe, compare, duvide, acredite, ei lá... só não pare. Se precisar de alguém pra conversar me escreva(marinhopaula@hotmail.com), estou disposta a trocar idéias, vivências, experiências...(não sou psicóloga, terapêuta ou qualquer coisa do tipo, mas sou mulher e também tive, e tenho, meus descaminhos na vida portanto...) querida, somos mulheres e por isso mesmo, portadoras de um dom magnífico que é o de gerar a vida, e é claro... a vida em nós mesmas também. Desejo de coração e alma que volte aqui muitas vezes e que ao final sinta a mesma alegria que sinto ao descobrir tanto sobre mim mesma e sobre o que é ser mulher.

Rosa, formei em casa com algumas amigas um grupo de estudos onde leremos juntas esse livro (algumas ainda não o conhecem, outras como eu estaremos revendo-o) mas de fato tenho que agradecê-la porque tudo partiu de seu incentivo, que agora atinge também as minhas amigas aqui no Brasil. PAZ!

rosaleonor disse...

Muito obrigada Paulça pelo seu contributo aqui...Bem que gostava que mais mulheres fizessem cono você. Fico igualmente contente por ter formado o grupo. É essencial. Em Portugal é mais difícil. AS mulheres não se juntam por elas mesmas mas por homens...lamento mas isto é verdade. E mesmo que lhes aconteça o que a acontece com a nossa amiga não despertam para elas próprias como ela. Penso que esta amiga também é brasileira portantop aí é mais fácil o contacto e a acção. Ás vezes tenho desgosto por este país tão conservador e "politizado" que só dá importância às aparências e tão pouco à alma...até as que se acham espirituais estão longe da essência selvagem da mulher e da Deusa.

Um abraço carinhoso para as duas!
rleonor

rosaleonor disse...

Muito obrigada Paulça pelo seu contributo aqui...Bem que gostava que mais mulheres fizessem cono você. Fico igualmente contente por ter formado o grupo. É essencial. Em Portugal é mais difícil. AS mulheres não se juntam por elas mesmas mas por homens...lamento mas isto é verdade. E mesmo que lhes aconteça o que a acontece com a nossa amiga não despertam para elas próprias como ela. Penso que esta amiga também é brasileira portantop aí é mais fácil o contacto e a acção. Ás vezes tenho desgosto por este país tão conservador e "politizado" que só dá importância às aparências e tão pouco à alma...até as que se acham espirituais estão longe da essência selvagem da mulher e da Deusa.

Um abraço carinhoso para as duas!
rleonor

rosaleonor disse...

Desculpe as letras a mais mas não estou habituada a este computador...e sai sempre erro...