O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, dezembro 08, 2008

O RETORNO DA POESIA E DA DEUSA

NA EXALTAÇÃO DA MUSA...
(…)
A prática da verdadeira poesia reclama um espírito miraculosamente desperto e capaz de, por iluminação, juntar as palavras, através de uma cadeia mais-que-coincidência, numa entidade viva, um poema que vai viver por si mesmo, talvez por séculos depois da morte do seu autor, cativando os seus leitores pela carga de magia que ele contem. Porque em poesia a fonte do poder criativo não é a inteligência científica mas a inspiração (mesmo que esta possa ser explicada pelos cientistas) não é através da Musa lunar, o termo mais antigo e o mais adequado para designar esta fonte de inspiração na Europa, à qual a devamos atribuir? Pela tradicional veneração da Deusa Branca ela torna-se uma com a sua representante humana, sacerdotisa, profetisa, ou rainha–mãe.

Nenhum poeta que exalte a Musa pode experimentar conscientemente a existência senão na sua experiência do feminino pois temos de considerar que é na mulher que reside a deusa seja em que grau for; exactamente como nenhum poeta apolínio pode exercer a sua função própria se ele não se submeter a uma monarquia ou a uma quase monarquia. Um poeta que exalte a musa abandona-se absolutamente ao amor e a mulher que ele ama na vida real é para ele a encarnação da Musa.
(…)
Mas o verdadeiro poeta, perpetuamente obsediado pela Musa, faz a distinção entre a Deusa na qual ele reconhece o poder supremo, a glória da sabedoria no amor de uma mulher, e a mulher indivíduo que a Deusa pode tornar seu instrumento por um mês, um ano, sete anos ou mesmo mais. O que é próprio da Deusa fica; e talvez o seu poeta tenha de novo a possibilidade de a reconhecer através da experiência que possa vir a ter de uma outra mulher "

ROBERT GRAVES - LES MYTES CELTES
LA DÉESSE BLANCHE
IN Ed. du Rocher

2 comentários:

josaphat disse...

Achei bonito isso Rosa, sobre o poeta, a musa e a deusa.

Anónimo disse...

sem dúvida, o mais belo e expressivo texto sobre poesia e poetas.
aliás o autor e poeta é um Mestre...

um abraço amigo

rosa leonor