O Presente
Pensando que ela era um presenteEles começaram a empacotá-la antes do tempo.
Eles poliram o seu sorriso
Eles abaixaram os seus olhos
Eles colaram as suas orelhas ao telefone
eles fizeram ondas em seus cabelos
eles endireitaram os seus dentes
eles a ensinaram a enterrar seus desejos
eles derramaram mel pela sua goela abaixo
eles a fizeram dizer sim, sim e sim
eles a deixaram imobilizada
Aquela caixa tem meu nome, disse o homem. É para mim.
E eles não ficaram surpreendidos.
Enquanto eles me davam beijinhos e me piscavam os olhos ele me
levou para casa.
Colocou-me na mesa
onde os seus amigos podiam observar-me dizendo dance,Dizendo, dance, mais rápido.
Ele a afundou para longe da saída e cravou o nome dele mais fundo.
Depois ele a colocou numa plataforma debaixo dos holofotes
dizendo vai,
Dizendo, vai, mais
forte
dizendo assim que eu queria
você me deu um filho.
Carole Oles
[Carole Oles, “The Gift”, na 13° Lua, II: 1, 1974, p. 39.]
“Não sou nada quando estou sozinha comigo mesma. Em mim mesma, não sou nada. Só sei que existo se sou desejada por alguém que é real, meu marido, e pelos meus filhos”.
[Meredith Tax, “Woman and Her Mind: The Story of Everyday Life”, Boston: Bread and Roses Publication, 1970.]
Quando as feministas descrevem a socialização nos papéis
sexuais de mulher, quando elas apontam as características que garotas são ensinadas
a ter (dependência emocional, infantilidade, timidez, preocupação em ser
bonita, docilidade, passividade e assim vai), elas estão falando da fabricação
cuidadosa de um produto apesar de não se chamar assim normalmente. Quando elas
descrevem a opressão da objetificação sexual, ou de viver em família nuclear,
ou de ser uma Supermãe, ou de ser trabalhadora precarizada, subempregos com
baixo salário que são ocupados maioritariamente por mulheres, elas também estão
descrevendo a mulher enquanto mercadoria. As mulheres são consumidas por homens
que as tratam como objectos sexuais; são consumidas por seus filhos (que elas
mesmas produziram!) quando eles compram o papel da Supermãe; são consumidas por
maridos autoritários que esperam que elas sejam servas submissas; e elas são
consumidas por patrões que as mantém instáveis na força de trabalho activa e
que extraem o máximo trabalho pelo menor salário. Elas são consumidas por pesquisadores
médicos que experimentam nelas novos e inseguros contraceptivos. São consumidas
por homens que compram seus corpos nas ruas. São consumidas pelo Estado e pela
Igreja, que esperam que proliferem a próxima geração pela glória de deus e do
país; são consumidas por organizações políticas e sociais que esperam que elas “voluntariem”
seu tempo e energia. Elas tem pouca noção de si mesmas porque sua pessoa
enquanto identidade foi vendida para os outros.
(Carol Ehrlich, Socialismo, Anarquismo e Feminismo)
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