O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, março 31, 2016

SENTIMENTOS...


A TRISTEZA

É UM MEIO TRANSFORMADOR

"A tristeza é o abandono emocional sentido quando as nossas expectativas e desejos caiem por terra e sofremos uma decepção. A tensão da espera desaparece e a tristeza dói porque supõe uma separação daquilo a que nos apegámos, seja um beijo de boa noite, uma medalha de ouro ou um romance, e conviver com a perda. Todos conhecemos os sinais de tristeza: olhos cansados, cara caída, costas inclinadas, ombros caídos, braços pendurados, pés que se ...arrastam e voz lânguida. A tristeza é uma espécie de murchidão.
Como é de supor, lutamos contra a tristeza com todas as nossas forças. Desejamos a felicidade, e sua procura é um direito inalienável, uma obsessão universal. Acreditamos que a forma óbvia de sermos felizes, de possuir o encanto e a faísca da felicidade, é evitar a tristeza. No entanto, na verdade é o contrário. A verdadeira alegria só é possível através da aceitação da tristeza inevitável, pois esta é uma reação saudável perante o fracasso de expectativas, de algo inevitável na vida. Desejamos que as coisas permaneçam sempre iguais, mas a vida é feita de mudança e sofremos ferimentos na adaptação. Desejamos que as outras pessoas nos tratem bem, mas não podemos controlá-las e ainda ter relações vitais com elas. As desilusões não se podem evitar.
A tristeza, então, conecta-nos com o centro da nossa vulnerabilidade e com os apegos primários que constituem a trama da nossa experiência fulcral. É uma energia de descompressão, uma tempestade que descarrega a tensão e limpa o ar, uma dança que dissolve, uma vibração caótica no nível celular que produz uma catarse curativa imprescindível para a fluidez e a elasticidade do ser. A tristeza é o meio transformador que nos permite amaciar a nossa rigidez e diluir o nosso desejo de segurança, estabilidade e garantias perante a inevitabilidade da mudança e a necessidade de crescimento. O desafio consiste em aceitar nossa incontornável vulnerabilidade e acolher a experiência de tristeza quando ela chegar, como libertação necessária para viver de forma saudável com o troco."*

(...)
 A RAIVA
 

"A raiva é uma reacção de protecção da integridade do nosso ser perante a invasão das nossas fronteiras pessoais. É um "não" instintivo a um dano, a uma violação. Põe limites e levanta barricadas. A ira cabal é afiada como uma faca. É rápida, clara e não precisa de explicação. São os dentes que mostra a mãe que defende seus filhotes, o lombo doridas e o soprar  do gato ameaçado por um cão. Não há nada mais limpo e eficaz que a raiva verdadeira, específica e justificada. Sua expressão franca expõe a incorrecção e defende a integridade em benefício de todos...
A ira interiorizada e contida é pandémica na nossa sociedade e as suas consequências são a catastrófica violência doméstica, os crimes, todo tipo de agressão gratuita, a guerra a todos os níveis e a destruição desesperada. A raiva é a emoção menos permitida, a mais desaprovada na nossa sociedade, e por conseguinte a mais reprimida. Os sinais corporais que reflectem raiva reprimida são visíveis em todas partes: dentes rangem, punhos fechados, costas rígidas, queixos proeminentes, vozes altas, olhos desafiadores. As sementes da raiva contida na eclosão de todos os dias de mil maneiras, destrutivas para si mesmo e para os outros, são uma praga. Se apenas aprendêssemos a reagir e nos  insurgirmos  corretamente no momento certo, protegendo o nosso território  das verdadeiras invasões, a ira se tornaria numa reacção adequada, uma resolução justa face aos desafios, um tratamento sem efeitos colaterais negativos, em vez de uma doença crónica cuja impotência acaba em destruição. A verdadeira libertação da raiva costuma levar a um sentimento de compaixão, porque passamos da raiva perante a violação a uma avaliação detalhada das causas que levaram as outras pessoas a invadir as fronteiras alheias. A própria ira pode ser uma forma oportuna de compaixão."*
(...)
*Gabrielle Roth
" Mapas ao êxtase. Ensinamentos de uma xamã urbana."
Via Germana Martin - mulheres em circulo


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