O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, março 31, 2016

Paradoxo da recuperação

PARA ALGUÉM...
Nigel Buchanan

Recuperação não se refere a um produto final ou resultado. Isso não quer dizer que se está "Curado". De fato, a recuperação é marcada por uma aceitação cada vez mais profunda das nossas limitações.
Mas agora, ao invés de ser uma ocasião de desespero, descobrimos que nossas limitações pessoais são a terra da qual brotam as nossas próprias possibilidades únicas. Este é o paradoxo da recuperação, ou seja, que ao aceitar o que não podemos fazer ou ser, começamos a descobrir que o que puderemos ser e o que poderemos fazer. Assim, a recuperação é um processo. É um modo de vida. É uma atitude e uma forma de abordar os desafios do dia-a-dia. Não é um processo perfeitamente linear, como as marés, a recuperação tem suas estações, o seu tempo de crescimento, para baixo na escuridão, para garantir novas raízes e em seguida, os tempos de sair à luz do sol. Mas acima de tudo, recuperação é um processo lento, deliberado, que ocorre através de um pequeno grão de areia de cada vez.” 
Patricia E. Deegan, Ph.D.*
  
Pela autenticidade do testemunho, esforço-me por me lembrar de uma experiência vivida de sofrimento. Da recuperação. Do período de transição de uma situação que não volta, ou que percebemos, por fim, que deliberadamente teremos de abdicar. Centra-nos. Temos de ser nós, da pessoa contra si mesma.
Talvez possamos reconhecer os erros, sem culpas, mas não poderemos começar do princípio. Do princípio não. Para outro destino. 
Sem que seja um salto no vazio, é urgente acreditarmos, pacientemente, que vamos ficar bem passadas as provações e que as dificuldades serão temporárias.
Qualquer mudança deverá parecer-nos bem-vinda, e trocarmos pelo caminho, os máximos desejos, por pequenas vitórias alcançáveis. Serão pedacinhos de controlo. Esta parte de nós resiste, mantém-se saudável, o sofrimento não contaminou tudo, mas nunca se sabe quando se estará pronto, sabe-se que pela metamorfose, se sobreviveu. 
O esperado, nas palavras de Coimbra de Matos, que possamos adquirir um modo de ser  "...mais resistente e sobremaneira mais eficiente de dar a volta por cima, construir uma outra e superior maleabilidade e endurance (tenacidade)".
Na transformação da dor, a ferida vira tatuagem, para no futuro, não nos esquecermos que fomos mais fortes do que aquilo que nos afetou e que devemos honrar a nossa evolução. 

* Patricia E. Deegan PhD "Recovery, Rehabilitation and the Conspiracy of Hope"
in incalculável imperfeição

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