Porque escrevo só para mulheres...
Pensei que seria oportuno e por varias razões, abordar a questão que me é posta tantas vezes porque não trato do "masculino sagrado" nem falo sobre "o poder do homem" - e eu escrever só para as mulheres - e também porque me lembrei que de facto eu me afasto e tenho afastado sempre de todos os movimentos e grupos de mulheres que incluem na sua linha um trabalho paralelo com o masculino, partindo do principio de que a mulher e o homem estão em harmonia e equiparados em relação aos princípios feminino e masculino e não estão...
O Principio masculino e o Homem reina e domina em todos os aspectos da expressão humana e social há milhares de anos e o Principio feminino e a mulher foram não só aglutinadas ao Homem como os seus valores sonegados e as mulheres aculturadas, suprimida a Deusa Mãe da sua história e a mulher privada da sua expressão natural, de médium ou mediadora das forças cósmica e telúricas.
E é ai justamente que todo o problema da mulher começa, pois toda a questão do FEMININO ESTÁ VICIADA E INCOMPLETA. .
Por um lado, compreendo que a mulher queira incluir nesta busca de si o homem, como par, mas então ela vai ter de passar por cima do padrão e ignorar, como aliás o faz, a que todos os homens e mulheres ainda estão sujeitos e a forma como secularmente a mulher foi totalmente submetida a todos os níveis ao Homem e continua a ser ainda hoje.
O perigo de um trabalho conjunto neste estado de coisas é que todas nós sabemos e assistimos vulgarmente a esta cena: desde que haja um homem presente numa sessão de trabalho ou se destaque por qualquer motivo a energia das mulheres vai forçosamente colocar-se na busca amorosa prioritariamente e a mulher fica de novo sujeita à atracção do do homem por sujeição sexual e emocional. Ela ai perde o discernimento e o sentido de identidade para dar lugar à fêmea...procriadora...tal como tem sido sempre e isso é também da natureza da mulher. Tenho visto e constatado como reuniões de mulheres onde existam homens se transformam em culto do homem...mesmo que inconscientemente. As mulheres estão prisioneiras dessa pulsão e não conseguem ter discernimento ou distanciamento.
No meu ponto de vista porém e dentro da minha linha de trabalho considero que a Mulher deve seguir um caminho espiritual de encontro consigo mesma sozinha, e independentemente do homem. Não estou a dizer que não tenha marido ou um amante ou filhos. São coisas diferentes. Estou a falar do objectivo do trabalho sobre si e consigo enquanto mulher e não como amante ou mãe, pois ser Mãe é maravilhoso e pode preencher completamente uma mulher, mas...a mulher tem de aprender a ser una em si e por si...
O trabalho que defendo e sobre o qual escrevo é exclusivamente sobre a "cisão da mulher", e sei que se esse trabalho não é feito, sem que a mulher seja consciencializada da sua divisão em duas, o que considero de suma importância, pois sem essa consciência nada vai conseguir. Se a mulher se entregar a qualquer pratica sem estar consciencializada desse conflito em si mesma, é esse conflito que vai refletir sobre as outras mulheres, e não vai conseguir atingir nenhuma realização numa dessas abordagens. Seja a xamânica, seja a tântrica ou a de qualquer abordagem pagã, ou mesmo no caminho da deusa, pois todas partem de uma ideia de equilíbrio já existente entre os dois sexos e os seus respectivos polos sem ter em conta quer a cisão da mulher quer o domínio ainda do homem e portanto ela não entende que séculos de negação do seu ser se possa resgatar em conjunto com o homem sem que o homem também faça um trabalho profundo consigo mesmo e em separado. Na realidade há ainda todo um trabalho de resgate da mulher em si e em primeiríssimo lugar até ela chegar à sua essência feminina da qual se afastou, a sua natureza ctónica e telúrica, para depois se poder ligar ao masculino ou poder trabalhar em conjunto com os homens.
Isto não quer dizer que eu não respeite e não ame os homens ou lhes seja adversa por si só. Não. Simplesmente a natureza da relação padrão inscrita no ADN dos homens e mulheres é ainda de sujeição e dependência da mulher e supremacia do homem sobre a mulher e os filhos. Até que a mulher se liberte desses padrões de submissão e sujeição e obediência implícita ao homem e ao macho, vergada ao peso dos valores vigentes, e uma sexualidade primária, o trabalho conjunto torna muito mais difícil senão impossível a mulher chegar a sua integralidade como mulher consciente.
Este caminho da mulher sozinha, é bem difícil de se fazer porque há que ter consciência da nossa prisão - primeiro a pulsão sexual primária e depois à sedução do masculino - e como o casamento por natureza a aprisiona social e biologicamente à natureza obrigatória de mãe e esposa...a qual exige da mulher toda a atenção e dádiva e assim não lhe resta tempo nem espaço nem vontade de se SABER OU SENTIR EM SI. O amor da mulher pelo filho ou pelo amante é dominante. E perguntamos, consegue a mulher viver sem um homem? Não...
Ora é aqui que travamos uma batalha....em que urge a mulher SER MULHER por si só sem apêndices e sem sucedâneos - para poder assim recuperar a sua natureza selvagem e ctónica e à sua identidade primeva - sem dúvida Lilith, a Mulher inteira que não se submeteu nem dependia do homem para nada, nem de deus...
Encarar esta perspectiva da mulher sozinha é para muito poucas mulheres a não ser as já maduras porque as jovens mulheres são totalmente seduzíveis e permeáveis à manipulação do macho...e esse é o curso natural dos sexos, mas urge hoje mais do que nunca uma tomada de consciência do Ser Mulher a nível mundial num momento em que há uma guerra silenciosa declarada contra as mulheres!
RLP
SEGUE-SE COMENTÁRIO de Luiza Frazão
Autora do livro O JARDIM DAS HESPÉRIDES
É isso mesmo, Rosa, muito bem visto. Esta questão em sociedades como a nossa em que a discussão feminista nunca penetrou verdadeiramente o tecido social é muito difícil de entender, e as mulheres em geral estão tão metidas nesta engrenagem patriarcal que sentem como se estivessem a cometer um acto de traição, diria eu, não trazerem homens para estes grupos... Traição é pouco... até uma espécie de suicídio porque no fundo que vão elas fazer sozinhas sem os homens?! Porque em sociedades como a nossa esta dependência emocional do homem vai muito de par ainda com a dependência financeira, com a sensação de segurança, o homem continua a ser, ou a ser visto, como o grande provedor. E na verdade vivemos numa sociedade extremamente masculina, com o poder económico manifestamente do lado dos homens. As figuras de poder e autoridade continuam a ser quase exclusivamente masculinas. Não se vêem projetos liderados por mulheres, mulheres com projeção pública funcionando como modelos de independência e autossuficiência, empreendorismo...
Só dizer-lhe que esta questão é muito pertinente no Movimento da Deusa, onde por esta razão, deixamos todos os Deuses de parte e apenas nos focamos nas divindades femininas...
Autora do livro O JARDIM DAS HESPÉRIDES
É isso mesmo, Rosa, muito bem visto. Esta questão em sociedades como a nossa em que a discussão feminista nunca penetrou verdadeiramente o tecido social é muito difícil de entender, e as mulheres em geral estão tão metidas nesta engrenagem patriarcal que sentem como se estivessem a cometer um acto de traição, diria eu, não trazerem homens para estes grupos... Traição é pouco... até uma espécie de suicídio porque no fundo que vão elas fazer sozinhas sem os homens?! Porque em sociedades como a nossa esta dependência emocional do homem vai muito de par ainda com a dependência financeira, com a sensação de segurança, o homem continua a ser, ou a ser visto, como o grande provedor. E na verdade vivemos numa sociedade extremamente masculina, com o poder económico manifestamente do lado dos homens. As figuras de poder e autoridade continuam a ser quase exclusivamente masculinas. Não se vêem projetos liderados por mulheres, mulheres com projeção pública funcionando como modelos de independência e autossuficiência, empreendorismo...
Só dizer-lhe que esta questão é muito pertinente no Movimento da Deusa, onde por esta razão, deixamos todos os Deuses de parte e apenas nos focamos nas divindades femininas...
Eu digo que não se "veem" projetos liderados por mulheres e isto é para ser entendido à letra: não se verem não quer dizer que não existam, o que acontece é que não têm a visibilidade que deveriam ter e que precisamos de lhes dar. Veja-se por exemplo o caso de duas intelectuais como Natália Correia e Dalila Pereira da Costa, quem estuda a obra destas mulheres, quem se interessa por este trabalho único e importantíssimo? Ninguém, toda a gente, homens e mulheres, focada em Fernando Pessoa, Agostinho da Silva, etc no masculino... quando conscientemente a ênfase deveria estar a recair sobre o trabalho de mulheres e dado o valor delas nem é fazer nenhum favor... Mas é difícil levarmos a sério o trabalho das mulheres...
1 comentário:
Perfeitamente compreensível escrever para nós, mulheres. O foco deve ser o feminino, a balança está desequilibrada por demais. Nosso poder precisa despertar. Fatos como dessa menina de 17 anos e outros tantos, milhares, não deixam a menor sombra de dúvida. Mas eles não precisam ocorrer para compreender a necessidade urgente do renascimento do poder feminino.
Gratidão mais uma vez,
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