O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, julho 19, 2016

A NOSSA FERIDA DE AMOR...


Da paixão e...da morte...

"De novo estou de amor alegre. O que és eu respiro depressa sorvendo o teu halo de maravilha antes que se finde no evaporado do ar. Minha fresca vontade de viver-me e de viver-te é a tessitura mesma da vida? A natureza dos seres e das coisas - é Deus? Talvez então se eu pedir muito à natureza, eu paro de morrer? Posso violentar a morte e abrir-lhe uma fresta para a vida?
Corto a dor do que te escrevo e dou-te a minha inquieta alegria."
in Água Viva - Clarice Lispector

A NOSSA FERIDA DE AMOR...

O desejo do amor exclusivo de alguém é talvez um sintoma de doença na humanidade, um estigma que nos marca logo ao nascer neste mundo. Por mais que tenhamos consciência dessa quase anomalia ela continua como um registo inconsciente, celular, impossível de descartar por vontade própria, assim só porque disso temos consciência ou intuição... Pode levar uma vida inteira a superar este anseio ou sonho, ou quem sabe muitas vidas... À partida, a busca da mãe ou do pai, no amante, a necessidade do consolo ou do abrigo, da protecção, de defesa, seja pois do amante quer na mulher quer no homem, é sinal da nossa separabilidade e incompletude à nascença, por isso todos queremos voltar aos braços de uma Mãe Maior ou ao seu útero, ou simplesmente à origem - que no fundo é o AMOR que todos procuramos - e essa é certamente a grande dor e a grande caminhada na terra e a razão porque nascemos presos por um fio, um cordão umbilical e procuramos toda a vida o prolongamento desse fio no Fio de Ariana, ainda a Mãe, a mulher-deusa ou deus-amor que nos faça sair do Labirinto, ou da nossa cegueira congénita...


rosa leonor pedro

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