O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, novembro 28, 2017

GRATIDÃO VERSUS INGRATIDÃO

"A DEUSA DO JARDIM DAS HESPÉRIDES
Desvelando a Dimensão Encoberta do Sagrado feminino em Portugal."


Anoto um facto curioso que foi ter escrito este texto a pensar exclusivamente nas mulheres presentes e nem  me lembrei que lá iriam estar homens - e afinal creio que metade das pessoas presentes eram homens - o que por um lado é significativo e importante mas por outro dificultou-me uma leitura inclusiva ...  Claro que acabei  fazendo a correcção oralmente e no momento da leitura, de forma espontânea o que  no fim me deixou um pouco incomodada pois pensei em como eles, quando falam do Homem e para o homem,  não se preocupam nunca com a presença das mulheres, nem com uma linguagem que inclua a Mulher!.

Uma outra nota relevante que quero deixar, é a ausência de mulheres que se dizem no Caminho da Deusa, que beberam nas mesmas fontes não tenham estado presentes e não tenham essa solidariedade de mulheres que partilham um mesmo Corpo da Deusa para celebrar momentos de Encontros Importantes entre mulheres...Sim, esse facto ou essa ausência maciça das mulheres a que me refiro no texto, deixou-me profundamente triste por constatar como as mulheres ainda andam separadas e divididas em grupos e em capelinhas, tal como no velho paradigma patriarcal e não se unem no mesmo propósito, não se designam sequer a mostrar reconhecimento e gratidão pelas mulheres mais velhas que foram pioneiras e que lhes abriram portas... Mulheres que se empenham tanto e foram marcos neste caminhar, merecem a consideração e a reverência das mais novas...mas não há essa cultura de respeito, e lamento dizê-lo, essa qualidade e essa profundidade de alma nem essa gratidão que enobrece os corações nas muitas mulheres que falam e dizem seguir a Deusa...

Esta ingratidão das mulheres ou esta superficialidade humana pesou na minha alma  e como Anciã - a mulher mais velha -  tenho o direito a esta explanação e a esta constatação. Não falo só por mim mas principalmente pelo trabalho e dedicação da Luiza Frazão que me merece o maior respeito e carinho. Assim acho que todas as mulheres deviam sentir.



EIS O TEXTO LIDO NA REEDIÇÃO DO LIVRO DA LUIZA FRAZÃO

Conheci a Luiza Frazão em 2007 através do meu blog Mulheres & Deusas, iniciado em 2001, e até ai praticamente não conhecia ninguém em Portugal que se interessasse pela Deusa e apenas do Brasil me vinham informações de trabalhos de várias autoras brasileiras e estrangeiras. E isto para dizer que de facto em Portugal, nessa altura, não havia grande eco sobre o que eu escrevia e eram raras as mulheres a fazer esta busca da senda do Feminino Sagrado. Tudo o que havia em relação à mulher e a uma nova consciência da mulher eram autoras feministas e marxistas, poucas interessadas na Mística da Mulher e menos ainda na perspectiva de um Sagrado Feminino.
Foi nessa altura que a Luiza apareceu com o seu Blog Saber de si e começamos a trocar impressões e opiniões sobre livros e ai sim tivemos algumas referências credíveis em mulheres (e também homens) de envergadura que a Luiza cita no seu livro tais como a Dalila Pereira da Costa, que destaco, ou a Natália Correia que conheci nas minhas deambulações nocturnas nos anos 70.
Mas, voltando à Luiza e ao seu livro, que é aqui o mais importante, eu queria com isto salientar que até ela aparecer no meu horizonte eu andei bastante sozinha nestas lides e quase ninguém credível para partilhar a minha visão da deusa e do feminino, salvo uma amiga ou outra que me aturava... mas hoje, estão a aparecer mulheres de todos os pontos do país e aqui estamos nós…diante umas das outras, cada uma à sua maneira a fazer o que melhor acha que deve fazer…
No entanto, devo referir muito honestamente, que ainda nos falta muito para chegar ao ponto de vencer as barreiras dos conceitos que prendem as mulheres aos padrões patriarcais e à sua velha rivalidade que as impede de serem mais amorosas consigo mesmas e com as outras mulheres, o que admito não é nada fácil e nos põe muitas vezes à prova…
Enfim, o que vos quero dizer principalmente é que estou muito contente com a aparição deste livro sobre a Deusa, repleto de novas informações sobre o nosso território. E fico mais contente ainda porque a Luiza é uma mulher estudiosa, uma mulher pragmática e inspirada, uma mulher séria que faz o seu trabalho com convicção e consciência. Ela não está a brincar às deusas… o que escreve e o que diz baseia-se no seu estudo e na sua experiência, nas suas pesquizas, o que no meu caso, confesso, não tendo essas qualidades - …eu sou apenas uma visionária que é tomada pelo que faz ressonância com a minha alma, mas preguiçosa demais para olhar aos dados históricos ou aos factos e assim este livro para mim é precioso como referêncial. É lendo estes livros muitas vezes que as nossas células acordam para essa memória atávica e nos fazem reviver a Paixão da Deusa e nos lembramos desse tempo em que éramos mulheres plenas e vivíamos em harmonia e paz como irmãs e sacerdotisas...
Ou estarei ainda a sonhar?
Não, não estou a sonhar - este livro prova-me que não…ele fornece-nos dados e contos e mitos e lugares que nos dão a prova real de que que tudo foi e que tudo é…e basta recordar, despertar para essas memórias celulares, para termos a confirmação da nossa intuição e dos nossos sonhos…
Quantas de nós não mergulhou na leitura das Brumas de Avalon e chorou – sim, eu chorei e rezei do fundo da minha alma para que esse livro fosse traduzido para português e foi…e agora temos nós nas mãos um legado de uma autora e sacerdotisa portuguesa…
Sei agora que não estou só, como sei que há muitas mulheres a despertar, talvez dezenas ou mesmo centenas de mulheres, a mais virão…Todas temos sede de voltar a casa e podermos assim tornar real algo que se anunciava por entre as Brumas desvendadas e percorridas a pé pelas Novas Sacerdotisas nas suas deambulações por Avalon, assim como pelos muitos estudos feitos por muitas mulheres no mundo que foram pioneiras e venceram barreiras intransponíveis por dedicação a esta causa que é de todas nós.
Quero dizer-vos ainda que também sei que nem todas partilhamos exactamente as mesmas ideias e visão da Deusa ou do Feminino Sagrado; Algumas mulheres aqui presentes já se incompatibilizaram comigo, com a minha face de “bruxa má” ou com a anciã algo “rabujenta” que me tornei, mas seja como for estamos todas ligadas a um mesmo passado e o nosso propósito maior e comum é ajudar as mulheres a ter consciência da sua história e de como fomos espoliados do nosso MA-TRIMONIO SAGRADO COM A DEUSA.
Finalmente minhas amigas temos mais um livro que nos pode ajudar a situar-nos na nossa História, em lugares e raízes matrifocais, e do qual podemos usufruir sabendo que contem informação fidedigna e por isso quero aqui deixar o meu sentimento de gratidão à Luiza Frazão pela sua dedicação assim como a todas as mulheres que nos acompanham nesta senda aqui presentes…
Sim, hoje podemos olhar para a nossa história colectiva, como mulheres, em português, graças ao trabalho da Luiza e este livro deve ser de facto uma referência pois nele podemos ler sobre mulheres que viveram antes de nós e não só, mas também, como tantas mulheres hoje escolheram viver e percorrer os mesmos caminhos das nossas irmãs e como todas temos todas uma história comum.
Estou ciente que todas temos o mesmo anseio: o de que um dia todas juntas possamos entendermo-nos e sermos essa Mulher Integral, essa mulher plena, Liberata ou Lilith, integradas as duas mulheres que o patriarcado dividiu para reinar, e viver em harmonia umas com as outras em vez de conflito e separação, porque não se chega ao nosso amago sem ser através dessa Mulher essencial que vibra em nós no mais recôndito do nosso ser…
Deixo-vos assim - para reflexão - uma citação importantíssima do livro da Luiza:

“Nada contribui melhor para a nossa saúde, equilíbrio e expansão de alma do que a sensação de criar, de exprimirmos a nossa forma única de ser através daquilo que fazemos com gosto e talento. Isso implica ocuparmos o nosso próprio espaço, mental e físico, o nosso espaço de liberdade, e sairmos da nossa zona de conforto”.

COMECEM JÁ A LER ESTE LIVRO!
Rosa Leonor pedro

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