HOJE MAIS DO QUE NUNCA Há muita confusão em torno de quem pertence a qual categoria sexual
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“Na realidade actual, diante da desintegração dos antigos costumes, inúmeras pessoas se encontram num estado menos de fusão do que de confusão. Com o colapso dos modelos sexuais tradicionais, as pessoas ficaram livres para experiências; diversas vezes, porém, acabam se vendo em grandes dificuldades e buscam ajuda para sair do emaranhado labirinto do sexo e da alma. Muitas das que pretendem estar confortavelmente instaladas nos papéis heterossexuais convencionais, na realidade não estão. Há muita confusão em torno de quem pertence a qual categoria sexual.
Uma das questões mais cruciais que qualquer nova teoria da sexualidade deve enfrentar são os rótulos geralmente aplicados à sexualidade – a heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade – e o significado relativo destes termos.
Apresento isso como uma única questão; e não como três questões distintas, porque na minha prática analítica é assim que ela, via de regra, aparece ainda que embrenhada em complicações. A maioria das pessoas está convencida de que “pertence” a uma destas três categorias, de que são de natureza hetero homo ou bissexual, e de que têm de aceitar o que são. Ou caso não consigam se aceitar como membros de uma categoria fixa, atribuem-se a tarefa de se modificarem para que possam se enquadrar numa delas.”*1
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CADA UM E O SEU CONTRÁRIO
"Quanto a mim, a questão do transgénero, atualmente na moda, que leva a que uma mulher escolha ser homem ou um homem mulher (por achar que está no corpo errado) é ainda uma manifestação de uma conceção binária da sexualidade: ter de escolher ser macho ou fêmea. Na novela do Jorge Sena, "O Físico Prodigioso", há algo mais complexo que a bissexualidade ou a transgenericidade: há coexistência, por vezes simultânea, em cada um de nós, de vários géneros, várias sexualidades." *
"Cada um com o seu contrário. Cada um de nós não é uma identidade estanque, imutável, mas somos um vórtice de contrários a viver neste corpo único que temos, quer seja um corpo masculino ou feminino. E ao contrário de muita literatura sobre as questões sexuais, nomeadamente a homossexualidade ou a bissexualidade, no "Físico Prodigioso" a ambiguidade sexual é vivida não com nostalgia de uma perfeição perdida, mas como prazer.
A fragmentação da identidade não é aqui geradora de nostalgia ou de derrocada da psique, mas como gozo e como caminho para uma identidade mais total.
O Físico Prodigioso tem uma carga metafísica que se torna ainda mais densa no seu final filosófico, uma alegoria sobre a incompletude do ser humano só resolvida pela Natureza nos seus ciclos de renascimento e morte.
Transexualidade ou o eterno retorno, este "Físico Prodigioso", mais do que uma novela erótica, é o retrato de uma humanidade prometeica e faustica, disposta a tudo para superar a natureza mas sem nunca o conseguir totalmente.
Em última instância, é também um texto sobre a Liberdade (não como coisa política) mas como caos, desordem, magias fundamentais ao ato de criação e ao ato de leitura."*2
2* Melo e Castro
1*in “ANDROGINIA – RUMO A UMA NOVA TEORIA DA SEXUALIDADE”
de June Singer (Cultrix)
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