"Sou da ilha das línguas de fogo. Com elas aprendi a metrificar o espírito. O indizível”. N.C.
A GRANDE DIFERENÇA: Matrismo sim, e não feminismo...
"Acho que não vale a pena a mulher libertar-se para imitar os padrões patristas que nos têm regido até hoje. Ou valerá a pena, no aspecto da realização pessoal, mas não é isso que vem modificar o mundo, que vem dar um novo rumo às sociedades, que vem revitalizar a vida. Ora bem, a mulher deve seguir as suas próprias tendências culturais, que estão intimamente ligadas ao paradigma da Grande Mãe, que é a grande reserva, a eterna reserva da Natureza, precisamente para os impor ao mundo ou pelo menos para os introduzir no ritmo das sociedades como uma saída indispensável para os graves problemas que temos e que foram criados pelas racionalidades masculinas. E no paradigma da Grande Mãe que vejo a fonte cultural da mulher; por isso lhe chamo matrismo e não feminismo. "
"ESTAMOS A CAIR NA MEDIOCRIDADE GOVERNATIVA
Os tempos festivos da revolução passaram. Teriam naturalmente que passar, mas aplica-se a terapêutica da racionalização tecnocrática e isso mata o sonho. Devia haver outras vias. Vias apropriadas àquilo que somos.
Não somos um País de grandes voos capitalistas. Se o quisermos ser caímos, inexoravelmente, nas garras do monopolismo. Portanto, devíamos cultivar as pequenas e médias empresas. Esta devia ser a lógica da economia portuguesa. Devia dar-se grande valor às pequenas e médias empresas e realmente deixarmo-nos de ambições que nos alcem aos grandes padrões europeus.
(...) Os (partidos políticos têm) os mesmos defeitos e algumas qualidades em comum. Evidentemente que os partidos são um defeito necessário, porque dividem, mas é uma divisão necessária para agrupar, para reunir a ideia da democracia parlamentar que temos.
Agora, o erro das pessoas é adorná-los com méritos extraordinários, porque isso faz-nos cair numa partidolatria, imprópria de espíritos livres!
Não penso que a nossa classe política seja pior do que a classe política de outros países. Ponhamos as coisas neste pé: as minhas exigências estéticas e éticas não tornam muito fáceis as minhas relações com a classe política. São caminhos separados. Não vamos pelo mesmo trilho. Mas a classe política é necessária. Ela existe e tem defeitos. Terá também uma ou outra qualidade.
(...) Agora, eu pergunto-me até que ponto é que hoje os Governos governam?!
Porque hoje ser-se Governo é um absurdo, na medida em que todos os Governos são governados (não me refiro aos Governos das grandes potências, mas de uma nação modesta como a nossa), são governados por um poder económico que imana de forças mundiais sem rosto. Portanto, eu não sei a quem cabe a decisão, não sei quem é que nos governa"
Natália Correia
"Foi Deputada à Assembleia da República (1980-1991), interveio politicamente ao nível da cultura e do património, na defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres"
*( Fernando Dacosta Natália Correia, em O Botequim da Liberdade )
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