O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, junho 15, 2019

EU NÃO ESTOU À VENDA


A PROSTITUIÇÃO É TAMBÉM UMA FORMA DE PORNOGRAFIA


"Você pode explicar por que é tão contrária à pornografia?

Acho estranho que precise de uma explicação. Os homens fizeram uma indústria de fotos, em movimento e estáticas, que retratam a tortura das mulheres. Eu sou mulher. Eu não gosto de ver a adoração virtual do sadismo contra as mulheres porque eu sou uma mulher e aquela sou eu. Isso aconteceu comigo. Isso vai acontecer comigo.

Eu tenho que lutar contra uma indústria que incentiva os homens a agirem de acordo com suas agressões às mulheres – suas “fantasias”, já que essas aspirações são tão eufemisticamente nomeadas.

E eu odeio que em todos os lugares para onde me volto, as pessoas parecem aceitar sem questionar essa falsa noção de liberdade. Liberdade para fazer o que a quem? Liberdade para me torturar? Isso não é liberdade para mim.

Odeio a romantização da brutalidade em relação às mulheres onde quer que eu a encontre, não apenas em pornografia, mas em filmes artísticos, em livros de artes, por sexólogos e filósofos. Não importa onde esteja.

Eu simplesmente me recuso a fingir que isso não tem nada a ver comigo. E isso leva a um reconhecimento terrível: se a pornografia faz parte da liberdade masculina, então essa liberdade não é conciliável com a minha liberdade.

Se sua liberdade é torturar, então nesses termos minha liberdade é para ser torturada. Isso é insano.

Andrea Dworkin

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