O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, setembro 16, 2022

"nós casamos contra a mulher"

 




PODEM AS MULHERES LIBERTAR-SE DESTE OLHAR DO HOMEM QUE LHES "DÁ" (E TIRA) A VIDA??

"O facto da menina viver a relação com a pessoa do seu sexo apenas através do homem, com essa espécie de filtro que existe entre ela e a mãe, é a razão mais profunda da divisão que encontramos entre uma mulher e outra mulher; nós as mulheres estamos divididas na nossa história desde sempre, não apenas porque cada uma de nós está unida socialmente ao marido, às e aos filh@s – este é apenas o aspecto visível da separação – a divisão dá-se a um nível mais profundo, ao não conseguirmos olhar-nos uma à outra, ao não sermos capazes de contemplar o nosso corpo sem termos sempre presente o olhar do homem. (…)

Num artigo em “L’Erba Voglio”… insistia na relação interrompida com a mãe, ou no mínimo deformada desde o começo precisamente porque a mãe não é a mulher, apenas “a mãe”, ou seja, a mulher do homem. Do facto de que a mulher não encontra na relação com a mãe o reconhecimento da sua própria sexualidade, do seu próprio corpo, procede depois toda a história sucessiva da relação com o homem como relação onde a negação de tudo aquilo que tu és, da tua sexualidade, da tua forma de vida, já se produziu.”*




PODE A MULHER SER UNA EM SI MESMA?

Pessoalmente tenho afirmado muitas vezes e volto a afirmá-lo: NÃO ESCREVO CONTRA OS HOMENS. Não falo contra os homens e menos ainda contra o individuo per se, mas CONTRA UM SISTEMA em que eles, quer queiram quer não, estão no dominio e abusam do poder e todos eles sem excepção, diria, estão formatados dentro da caixa patriarcal - em que mulher serve para servir o homem e dar prazer - e em que o seu poder sobre a mulher e a sua conduta, mesmo dos que parece estarem do seu lado e que se dizem "pró-feministas", não o provam em nada. Ainda ontem ouvi um humorista português brincar com o casamento dizer, sim, "nós casamos contra a mulher" ...e a mulher contra o homem - não é com - é CONTRA. E assim é na prática. E para além de a mulher dever se afirmar autónoma e independente do olhar do homem e SER UNA EM SI MESMA - valer por si mesma sem precisar de ser mãe, nem filha, nem amante nem esposa do Homem para que este lhe dê o selo para a sua existência.

Assim, espero que fique esclarecido que não escrevo contra os homens em si e por si - tenho amigos e irmãos, e tive pai e sei bem do que falo - mas CONTRA O SISTEMA que lhes dá todos os direitos sobre as mulheres, anulando-as. E não, o feminismo não acabou com esse olhar do homem e a sexualidade continua a ser o sinal de escravidão da mulher ao homem e a espécie.

A minha questão é: pode a mulher ser ela mesma sem nenhuma dessas pré-condições de serviço? Ter vida própria sozinha? Ou vai a mulher, tenha que idade tiver, continuar a cair na "canção do bandido", do amor a dois e da felicidade conjugal para ter um lugar na sociedade? Sim, eu sei que mulheres sozinhas é muito dificil, (nada nos protege ou defende), mas pelo menos tenham a CONSCIÊNCIA do seu valor...

Sim, o amor é uma necessidade humana, mas tem a mulher de se submeter a um "código de honra" - sendo que sem o carimbo do casamento ela não é ninguém, mas uma vadia, faça o que fizer...Tem ela pois de obedecer sempre a um padrão sexual para ser aceite e realizada?

Portanto minhas amigas, eu falo para a Mulher que se quer descobrir em si mesma e ser ela por ela...e não mais pelo belo par idealizado ou pelo olhar do outro...

Quer a mulher continuar a eleger o Mito e ser escrava dele?

rosa leonor pedro

*Lea Melandri, La Infamia Originaria (excertos),



citada por Cacilda Rodrigañez Bustos em El Assalto al Hades

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