"A elevada presença das mulheres no Ensino Superior pode causar problemas demográficos, dificultando a procura de um parceiro". Esta pérola não saiu de um qualquer bafiento manual do século passado ou do preâmbulo de mais um decreto da sharia. É uma das conclusões de um estudo revelado esta semana e realizado pelo instituto de estatística da Hungria, que alerta para os perigos sociais e económicos do elevado nível de instrução feminina.
Sob o título "Fenómeno de educação cor-de-rosa na Hungria?", o relatório conclui que o número elevado de mulheres com formação universitária pode, pasme-se, colocar em perigo a economia, baixar a taxa de natalidade e a taxa de casamentos e, claro, prejudicar os homens. Mais: o sistema de ensino, dominado pelos cromossomas XX, subvaloriza "características masculinas" (a saber, competências técnicas, assunção de riscos e empreendedorismo), o que pode causar problemas mentais e de comportamento nos homens, que assim não conseguem desenvolver as suas capacidades especiais, e até levar ao colapso da vida em sociedade, porque não vai haver quem conserte um computador avariado ou uma torneira a pingar.
Esta alegada investigação realizada por um organismo próximo de Viktor Orbán - o mesmo que não quer "raças mistas", proíbe informação sobre temas LGBTQI+ e não convive bem com a democracia e a liberdade de imprensa e se senta no Conselho Europeu - está a causar indignação, o que é quase sempre sinónimo de impotência em regimes com tiques fascizantes.
Negar o acesso à educação, principalmente das mulheres, é uma estratégia clássica de controlo social e repressão política. E um traço definidor dos regimes totalitários. Embora esta doutrina pareça uma barbárie anacrónica na Europa, a verdade é que surge na mesma altura em que num país de democracia consolidada (Finlândia) se discutiu se uma primeira-ministra (Sanna Marin) que dança e canta numa festa tem competência para governar.
Apesar de todos os avanços civilizacionais, uma mulher culta e empoderada (ainda) é considerada um perigo."
Helena Norte
*Editora executiva-adjunta
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