O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, setembro 16, 2022

uma mulher culta e empoderada (ainda) é considerada um perigo...



"A elevada presença das mulheres no Ensino Superior pode causar problemas demográficos, dificultando a procura de um parceiro". Esta pérola não saiu de um qualquer bafiento manual do século passado ou do preâmbulo de mais um decreto da sharia. É uma das conclusões de um estudo revelado esta semana e realizado pelo instituto de estatística da Hungria, que alerta para os perigos sociais e económicos do elevado nível de instrução feminina.


Sob o título "Fenómeno de educação cor-de-rosa na Hungria?", o relatório conclui que o número elevado de mulheres com formação universitária pode, pasme-se, colocar em perigo a economia, baixar a taxa de natalidade e a taxa de casamentos e, claro, prejudicar os homens. Mais: o sistema de ensino, dominado pelos cromossomas XX, subvaloriza "características masculinas" (a saber, competências técnicas, assunção de riscos e empreendedorismo), o que pode causar problemas mentais e de comportamento nos homens, que assim não conseguem desenvolver as suas capacidades especiais, e até levar ao colapso da vida em sociedade, porque não vai haver quem conserte um computador avariado ou uma torneira a pingar.

Esta alegada investigação realizada por um organismo próximo de Viktor Orbán - o mesmo que não quer "raças mistas", proíbe informação sobre temas LGBTQI+ e não convive bem com a democracia e a liberdade de imprensa e se senta no Conselho Europeu - está a causar indignação, o que é quase sempre sinónimo de impotência em regimes com tiques fascizantes.

Negar o acesso à educação, principalmente das mulheres, é uma estratégia clássica de controlo social e repressão política. E um traço definidor dos regimes totalitários. Embora esta doutrina pareça uma barbárie anacrónica na Europa, a verdade é que surge na mesma altura em que num país de democracia consolidada (Finlândia) se discutiu se uma primeira-ministra (Sanna Marin) que dança e canta numa festa tem competência para governar.

Apesar de todos os avanços civilizacionais, uma mulher culta e empoderada (ainda) é considerada um perigo."

Helena Norte
*Editora executiva-adjunta


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