Mulher que segura a Taça, o Cálice ou a Pedra, essa mulher que é a Sacerdotisa de um culto do qual jamais conheceremos o verdadeiro significado."
J.M.
Que Mulher é essa que se confunde com o Graal?
Uma coisa é certa: mais uma vez, nos encontramos na presença de uma memória do culto da antiga deusa, destronada pelos deuses machos: é o sentido da violação cometida pelo rei Amangon contra uma das donzelas ou fadas do castelo do Graal. Amangon forçou o destino, curvou o poder feminino pela força cega e brutal do macho, derrubando a sua soberania sob a forma simbólica do seu golpe. Com efeito é o Pai que acaba de instaurar a sua autoridade exclusiva. Desde esse tempo, a sociedade anda à procura de um equilíbrio que não poderá instaurar senão quando o Jovem filho da Deusa Mãe, vier matar ou castrar, ou eliminar o Pai, a fim de devolver à Mãe a sua Soberania de antigamente.
Assim, idealmente e miticamente, e muito antes da cristianização do mito, a Procura do Graal é, ela, a Glorificação da Eleita, a mulher eterna, divina, de múltiplos aspectos, que reina nos subterrâneos do mundo, e que não espera senão pelo o seu filho mais jovem para reaparecer ao ar livre e retomar o seu título de Grande Rainha equilibrando de novo a sociedade dos seus filhos desunidos e que se reconciliar no amor da Mãe.” (...)
In “A Mulher Celta”
Não é certamente a Mulher perdida da própria mulher, submetida às instituições e dominada pelos homens como um objecto de uso pessoal e social que nada tem a ver com a Mulher Divina ou a Musa, mulher essencial porque mágica e fada, detentora de sortilégios e poder de curar, aliada da natureza e dos animais! Nem a mulher violada secularmente pelo poder patriarcal que destitui a Deusa Mãe e fez da sacerdotisa uma prostituta e da mulher livre “a casada” e portanto, sujeita às suas leis, nem da "bruxa" queimada pela Inquisição por usar um dom inato e que fazia perigar o poder dos fanáticos cristãos?
Esse Feminino eterno e parte do princípio que rege o universo é rechaçado e denegrido ao longo dos séculos destituindo a mulher de identidade por predominância exclusiva do princípio masculino da força e do autoritarismo, negando às sociedades esse equilíbrio dos dois princípios em harmonia que a Deusa Mãe impunha como justiça e lei e não a força da Espada!
A mulher moderna, perdida da sua origem e essência, é uma espécie de apátrida sem sentimentos ou consciência própria. Absorve, diz e escreve e sente-se como o homem a fez...é a polícia travesti, é a médica inumana, é o soldado que vai à guerra é a mãe sem coração nem amor pela maternidade! ? uma Atenas saída da cabeça de Zeus ao serviço do patriarcalismo sem consciência nenhuma de si própria em profundidade. Reflecte-se apenas no homem na sua posse ou possuída e não é senão uma sua extensão, um sexo. Falar de feminino, pela sua ausência de sentido profundo, é falar apenas de sexo e a confusão inerente estabelece-se. Ou se é feminista ou lésbica...
Mas a mulher não é apenas um sexo! Todavia, como se desconhece em essência e se sente perdida de si mesma, educada e suportada em sociedades falocráticas, não têm nenhum sentido em si mesma ou centro e enche-se do valor que os homens lhe dão que é o de uma mente racional atulhada de conceitos lógicos onde prevalece tacitamente a superioridade do Homem em nome de quem ela fala. Acontece cpom as mulheres mais inteligentes, as universitárias etc. Elas falam exclusivamente do seu ciclo vicioso As Faces de Eva, descenhecendo a outra Mulher que vive na Sombra e que foi renegada da história e do seu interior...Por essa ignorância a mulher está presa num ciclo vicioso que é o conhecimento adquirido que a sociedade falocrárica lhes impôs e de que elas não conseguem sair sem ir às origem da própria pré-história...onde efectivamente começa a sua história ou o poder da Grande Deusa onde todos os mitos têm origem.
A história da Mulher não é apenas a de uma “lavagem ao cérebro” mas a de uma lavagem às suas entranhas da maneiras como lhe tiraram a Voz de Oráculo da Terra Mãe e agora o Útero sob qualquer pretexto. Anula-se a mulher dos seus valores intrínsecos, da sua intuição e percepção extra-sensorial, da sua sensibilidade tão própria aliada à emoção e reduz-se a sua razão de ser a uma reprodutora com prazo de validade ou a um objecto de luxo e plásticas, o estereotipo do travesti que o homem inventou e que levou a mulher a identificar-se com essa imagem e de que os jornais e revistas e televisão estão cheios até á saturação. A mulher é imbecilizada a cada passo e as próprias mulheres hoje em dia não têm a menos noção ou respeito pelo seu SER Ancestral, por essa Voz secular que lhe foi roubada pelos padres!
A sua cultura ou erudição basea-se toda no princípio masculino que a reduz a um zero à esquerda (e à direita!).
E não tenham esperanças as mulheres que lhes reste ainda alguma verdade e dignidade própria de que serão aceites se se expuserem nesta sociedade machista e falocrática com uma voz genuína senão for para os servir e fazer de figura de estilo, quer como mulheres, quer como políticas, ministras ou executivas ou mesmo escritoras! As polícias são brutais como os machos e as ministras duríssimas e inflexíveis nos seus propósitos rígidos sem qualquer humanismo. Não é pois, desse “Feminismo” que falamos nem o que nos falta a nós mulheres. E muito menos é essa a mulher da Procura do Graal. Ou por outra, a Mulher que se perdeu nos primórdios dos tempos é que tem de se buscar a si mesma dentro do seu coração e como Voz do Útero sendo a Taça que dá a beber e não espera beber do outro para ser ela própria porque a mulher é ela o Cálice.
Só depois da Mulher ser Mulher inteira, o verdadeiro Cavaleiro voltará e o Filho da Deusa a respeitará.
A Mulher em si é a Chave do Mito.
Rosa Leonor Pedro
(republicando)
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