O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, dezembro 17, 2001

"A mulher é, assim, a vidente primordial, a Senhora das águas disseminadoras da sabedoria, oriundas das profundezas; das Fontes murmurantes e das nascentes, pois "o om pronunciamento primordial da vidência é a linguagem da água".Não obstante, a mulher também conhece o sussurro das árvores e todos os sinais da natureza, a cuja vida está tão fortemente ligada. O rumor das águas das profundezas é somente um aspecto externo do murmúrio interior do próprio inconsciente, que nela se eleva espiritualmente como água a um gêiser Ela é o centro da magia, do cântico mágico e enfim da poesia, pois a situação extática da vidente resulta de ela ser dominada por um espírito que irrompe dentro dela, o qual se pronuncia a partir dela , ou melhor, que nela se denuncia e se manifesta, em forma de invocação rítmica e intensa. Ela é a fonte de onde Odin obteve as runas da sabedoria, bem como a Musa, a origem das palavras que fluem do âmago do poeta e sua anima inspiradora. Como força inspiradora ela pode se manifestar isoladamente, na forma tríplice que já conhecemos, e ainda num contexto plural indeterminado. As Cárites, as ninfas, as sereias, as musas, as três graças, as moiras e outras inúmeras figuras, são as forças melodiosas, dançantes e proféticas dessa mulher inspiradora e inspirada na qual o masculino, muito mais distante das origens, busca sabedoria quando impelido pela necessidade. E vezes e vezes seguidas, encontramos essa mulher mântica ligada aos símbolos do caldeirão e da caverna, da noite e da lua. Com efeito, o caldeirão não é o só vaso da vida e da morte, da renovação e do renascimento, mas também da magia e da inspiração. O caráter de transformação que lhe é inerente passa pela decomposição e pela morte, para chegar à intensificação extática e ao nascimento do espírito eloquente, o qual conduz sob inspiração extática à palavra, ao cântico e à profeciaa, como sintomas do renascimento. (...) ERICH NEUMAN in "A GRANDE MÃE" HINO A DEMÉTER Lembro-me, Mãe, dos confins da minha memória recordo a tua beleza e grandeza! Lembro-me do ser dócil e humilde que eu era e das serpentes brandas que passeavam a teus pés. Lembro-me do teu sorriso, da tua voz que se repercutia como sinfonia em todo o meu ser, e a minha alma dançava e vibrava no teu amor extasiada. Nesse tempo o céu resplandecia e na terra era eterna a primavera. Lembro-me das tuas filhas ornadas de grinaldas vestidas de branco em volta de ti, e quando um gesto teu iluminava o arco-iris sobre as nossas cabeças irmanadas. Lembro-me desse tempo, Mãe, e sagrado era o tempo em que os frutos eram sedosos e doces afagados pelas tuas mãos. Lembro-me do teu ser repleto de luz, da tua ternura escoando dos teus lábios de mel e de ti, abelha mestra, rainha de uma colmeia. Lembro-me, Senhora e nada me liberta desta visão-encantamento que é neste mundo o meu refúgio. Ah! que dom deveria eu ter para te evocar neste mundo maldito, onde fomos perseguidas, queimadas vivas nas fogueiras da Inquisição e exploradas como instrumentos de prazer e ódio?!

1 comentário:

Ná M. disse...
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