..."Digo "saborear o sabor da alma do outro" porque a alma, se é como um sopro luminoso no ser, tem um pós-gosto de sal cujos efeitos primeiros são a vida.
Este pós-gosto de sal da alma traz em si o calor um tanto cozinhado dos Deuses bons, um quente salgado que se repercute no sangue e a sua arborescência num líquido de vida, nas veias e nas artérias.
E o coração, esta rosa de pétalas de palpitações, tem o poder de transformar o salgado, por meio de uma alquimia de amor que lhe é muito própria, numa espécie de açucar de que nunca se apreciará suficientemente o sabor inefável, este sabor que se conhece pelo nome de bondade.
A BONDADE É O AÇÚCAR DO CORAÇÃO cuja ternura é uma das manifestações mais doces; não se trata de um açúcar insípido, mas de um açúcar rico e poderoso feito de luz polarizada dos sentimentos mais puros. Miseráveis são aqueles que, tendo pervertido o seu gosto, alteram ou desnaturam o sabor deste açúcar de coração ao ponto de torná-lo ineficaz e estéril.
Ah, enterneçamo-nos com todos estes frutos e todas estas flores que os nossos pomares e jardins interiores são capazes de produzir! E possamos nós fazer da nossa vida um festim de sabores que o Amor, a Ternura, a Bondade darão o melhor que têm."
Pequeno Tratado de Ternura, de Mercier
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