O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, maio 30, 2003

TODA A MULHER

E toda a mulher é uma mãe,  real ou potencial



“Quando se ousa afirmar que todas as relações entre homem e mulher, sejam eles quais forem (conjugais, filiais ou outras) são necessariamente relações incestuosas entre mãe e filho, estamos a provocar as críticas mais ásperas, e fazer-se passar por obcecado. No entanto...

O homem é com efeito um ser incompleto, e ele apercebe-se disso. O seu medo e a sua atracção pela gruta obscura (o vazio de onde vem), o seu medo e a sua vertigem diante da morte(o vazio para onde ele irá), tornam-no um ser frágil que procura a qualquer preço uma segurança. Essa segurança é a mãe, tanto para o homem como para a mulher. (...)

O homem está pois biologicamente sujeito à mulher quer ele queira quer não. E toda a mulher é uma mãe, real ou potencial. Ele é o contido (contenu) enquanto que a mulher é quem contém (contenant): isso constitui um estado de inferioridade muito claro para o homem, que passa por isso o seu tempo a negar esta realidade para se provar a si próprio que é superior. É o que explica a acção masculina, o facto de que os homens sejam dotados para a acção, para a violência, para o combate. Esta acção é o único meio que lhes resta para tentarem se afirmar.
E se o homem é o contido, portanto um ser inferior, ele arroga-se ao direito de ser superior mostrando a todo o preço que a sua força activa é a única capaz de proteger a espécie. Ele soube mesmo convencer a mulher desta superioridade, simbolizada pelo reconhecimento do pénis do rapazinho ao nascer, pela sua mãe, ou por qualquer outra mulher que ajude no parto. O famoso grito: “é um rapaz!”, repetido por gerações, diz bastante do seu significado.

No entanto, a que contém (ou abarca), a mãe, digamos a mulher, é ela própria a realização do Paraíso. Ela o concretiza, esse Paraíso, sob os dois aspectos de uma só realidade: ela “contem” (engloba) a sua criança e o seu amante.”


in "La Femme Celte” de Jean Markale


NOTA PESSOAL (e A MARGEM...)

Podemos então ir um pouco mais longe a risco de provocações maiores, mas eu diria que por todas estas razões e outras, o homem não querendo aceitar essa “inferioridade”, passa a desprezar a mulher, vangloriando-se da sua "virilidade", violando-a ou matando-a e fazendo a guerra ao seu vizinho para alastrar assim a sua impotência de macho que se vinga pela sua incapacidade de aceitar e amar a Mãe e a Mulher que o "contem". Cometendo ainda a grande aberração de violar ou agredir as crianças indefesas no seio da própria família ou das suas instituições que as "guardam", como é o caso da pedofilia...

A grande causadora desta “vingança” ancestral foi a “madre igreja” que denegriu a mulher e reprimiu a sexualidade, com padres vestidos de mulher a representar a vontade castradora do pai do céu, exclusivamente! Infelizmente todos os autocratas, ditadores e representantes da violência ou da repressão da vida instintiva-natural, seja ela instituída como “defesa” de território ou da “religião e moral” ou puramente marginal são iguais na falta de amor e de respeito pela vida e pela natureza representada antes pela Grande Deusa e encarnada na Mulher. A destruição do planeta terra é o ódio à Mãe...e a prova da “força” do Homem sobre a natureza!

rlp

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