"As sociedades mais arcaicas deram uma importância particular à Mãe e, portanto à Mulher. A tradição hebraica que rebaixa a mulher e faz de Deus um solitário ao mesmo tempo macho guerreiro e pastor, a religião islâmica que se inspira nessa noção, são concepções nómadas relacionadas com a secura do deserto. O ponto culminante do rebaixamento da divindade feminina foi sem dúvida período em que Roma impõe ao seu Império não somente o seu regime patriarcal, mas, também o seu formalismo religioso incrivelmente estéril e o qual é herdado em parte pelo cristianismo dos primeiros tempos.
Mas no interior do cristianismo, e debaixo de influências misturadas de cultos orientais, como o da Deusa-Mãe Síria, o de Isis, o de Cibele, o de Deméter, e dos cultos druídicos que davam à mulher um papel dos mais importantes, o conceito da Virgem Maria não iria demorar e retomar vida. E de tal maneira que hoje em dia, o culto da Virgem está em vias senão de ultrapassar o culto de Jesus, no mínimo de o igualar.É um sinal dos tempos, e que não deixa de ter relação com o afundar da noção Pátria, em oposição com a antiga e sempre actual Mátria, que, com efeito, se manifesta em numerosas tentativas de unificação supranacional no seio de uma tradição comum. Os povos, ameaçados de seca, viram-se para a senhora das águas, a Mãe. E é a Mãe na maioria das línguas, e também Mar(ia) que é ela mesma o Mar.
Esta volta para a Mãe (Mar), quer seja considerada sobre o ponto de vista psicológico, ou o ponto de vista político, precisa ser indubitavelmente ligado ao acto sexual. O acto sexual é com efeito, com toda a clareza, uma tentativa brutal do homem para retomar lugar no ventre da mulher, e para a mulher uma tentativa de retomar a sua criança desaparecida (e isto inconscientemente numa mulher mesmo que não tenha tido ainda nenhum filho). (...)
“No acto sexual e no de fecundação que se encontra estreitamente ligado, fusiona-se numa só identidade, não somente a catástrofe individual (nascimento) e a última das catástrofes da espécie, mas também, todas as catástrofes sofridas desde a aparição da vida; portanto o que se exprime no orgasmo, não é somente a calma intra-uterina e uma existência apaziguadora, assegurada por um meio mais acolhedor, mas também a calma que precede o aparecimento da vida, quer dizer a paz morta da existência inorgânica”
in Le Mythe Celtique de l’origine (Do livro de Jean Markale, “La Femme Celte”).
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