"Um Messias... no Feminino"
"Os cultos a divindades femininas são comuns a todos os povos do Mediterrâneo, bem assim como o foram, em outros tempos, aos Judeus da Diáspora.
No contexto lusitano, os mitos das aparições tornaram-se notórios a partir das viagens marítimas e fluviais. De carácter semita, estes tipos de cultos revelaram-se como uma esperança messiânica e retratavam a aparecimento de uma Senhora a todos os aflitos (marinheiros, pescadores, fugitivos, etc.).
Era à «Senhora da Terra» que os navegantes, quando partiam para o mar, as suas almas encomendavam, faziam promessas de uma vela ofertar se não tivessem a água como a sua sepultura, e a quem os náufragos se apegavam quando os navios naufragavam e se despedaçavam.
E na volta, vencidas as jornadas trágicas pelos desertos de água, cumpriam a promessa.
Este tipo de cultos esteve na origem da construção de capelas junto da mesma água que os trouxe (na costa, ou a alguns escassos quilómetros desta). Aí veneram a Imagem d'Aquela que suas vidas conservou.
Feitas padroeiras dos viajantes, muitas destas Senhoras passaram a ser chamadas de Senhora da Guia, por associação ao astro Vénus (herança romana), facilmente identificado pelo seu grande brilho. Popularmente, é também conhecido como Estrela da Manhã, já que o seu brilho anuncia o Sol, e da Tarde, altura em que deixa de se poder observar por se encontrar demasiado próximo do Sol, passando então a ser visto como estrela anunciadora da noite.
Na base da sobrevivência dos discursos sobre as aparições de um messias feminino encontramos o problema da própria sobrevivência do homem, pois foi através de uma elaboração colectiva de mitos, enquanto vínculos a um passado, que o homem encontrou uma forma de se legitimar no presente a um determinado contexto cultural.
TEXTO TIRADO DE:http://www.revista-temas.com/contacto/NewFiles/Contacto3.html
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