(...)
O que te estou escrevendo não é para se ler - é para se ser. A trombeta dos anjos-seres ecoa no sem tempo. Nasce no ar a primeira flor. Forma-se o chão que é a terra. O resto é ar e o resto é lento fogo em perpétua mutação. A palavra "perpétua" não existe porque não existe o tempo? Mas existe o ribombo. E a existência minha começa a existir. Começa então o tempo? Ocorreu-me de repente que não é preciso ter ordem para viver. Não há padrão a seguir e nem há o próprio padrão: nasço.
Ainda não estou pronta para falar em "ele" ou "ela". Demonstro "aquilo". Aquilo é lei universal. Nascimento e morte. Nascimento: Morte. Nascimento e - como uma respiração do mundo.
(...)
in Água Viva Clarice Lispector
2 comentários:
maravilhoso!
sob muitos aspectos.
clarice é mais que uma grande escritora.
Sem dúvida..ela parecia ser uma grande iniciada a falar para o vulgo...uma sensibilidade estonteante.
Abraço
rosa leonor
Enviar um comentário