AS trevas estavam em todo o lado, envolviam tudo.
Nessa noite, nessa escuridão, a Mãe dividiu-se em duas: pariu uma filha igual a si própria: Ou da Mãe dividida resultaram duas filhas iguais.
Mas as divisões instantâneas tornaram-se impossíveis, tão grandes eram as mães e as filhas. A divisão em duas, ou mais, partes iguais durava um século. Era o século de dor e de morte, até que a vida voltasse a brilhar, agora duplicada.
Para economizar esse tempo de morte, isto é, para que a vida não fosse constantemente interrompida por brutais cisões, as mães – e as filhas, toda aquela imensidão de irmãs gémeas – inventaram um novo processo mágico: uma minúscula parte de si próprias, onde se encontravam as características do todo como linhas convergindo para um ponto, separava-se; nas linhas convergentes o movimento retrocedia. O ponto era arrastado naquele movimento, agora divergente, e nova reprodução da mãe aparecia, igual a tantas outras.
(…)
A Mãe encolheu-se em fundo escuro.
(pag. 41 e 41)
"As mulheres caladas, escondidas atrás das portas, das cortinas. A histeria, discurso do útero, só tem lugar na loucura. A Mãe foi cuidadosamente embalsamada: retiram-se todas as tripas, e rechearam-na com o falo transcendente.”
"As mulheres caladas, escondidas atrás das portas, das cortinas. A histeria, discurso do útero, só tem lugar na loucura. A Mãe foi cuidadosamente embalsamada: retiram-se todas as tripas, e rechearam-na com o falo transcendente.”
(pag. 308)
Isabel Barreno, A Morte da Mãe, ed. Caminho
Isabel Barreno, A Morte da Mãe, ed. Caminho
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