O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, novembro 01, 2008

NO BRASIL COMO NA EUROPA...

TODAS AS MULHERES ANDAM À DERIVA...
No Brasil talvez seja o sexo o mais importante para as mulheres, a ideia pobre que têm de sexo, pelo que é medido o seu valor, mas na Europa o Poder é outro sexo...é o falo da mulher, o que lhe é permitido usar...para sair do monte de carne descartável, que são todas as mulheres para a sociedade falocrática...
O resto é mesmo conversa...
Enquanto a Mulher não se sentir inteira na sua pele e não descobrir a sua essência a sua emancipação é sempre fictícia seja na Alemanha seja na França ou em Portugal
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"Escritoras discutem o envelhecimento feminino"
Beatriz Tafner, JB Online

RIO - O Idéias&Livros convidou a psicanalista Livia Garcia-Roza, que lançou recentemente o romance Milamor (Record, 206 p., R$ 33), e a antropóloga Mirian Goldenberg, que assina o ensaio Coroas (Record, 221 p., R$ 28), para uma conversa sobre o tema comum às duas obras: o envelhecimento feminino.

Livia: Mirian, seu trabalho é pensar o homem e a mulher na cultura brasileira. Mas a gente nota que é mais que isso, é pensar a relação entre gêneros na nossa cultura. Fiquei me perguntando se não seria possível pensar a mulher fora dessa articulação. Que história longa foi essa que nos fez sempre, no pior dos casos, aprisionadas nessa relação, imobilizadas pelo afeto? É justamente o caso da personagem do meu romance.

Mirian: Quando li seu livro, fiquei o tempo todo pensando qual seria o fim. Isso porque a personagem tem no homem o centro de sua existência. Ela não tem projetos sem os homens e sem os filhos, e me deu exatamente a sensação que você mencionou, que ela é prisioneira de um destino, o de ser mulher no Brasil. Ela está em um barco literalmente à deriva. Sua pergunta infelizmente não tem uma resposta positiva. As brasileiras que estudo só falam dos homens. Mesmo quando elas são poderosas, mulheres de camadas mais altas, o discurso é o mesmo, da falta de homem, e sobre a presença positiva ou negativa dele na vida delas. Elas não conseguem pensar em uma saída de liberdade, a não ser quando dizem: “Me aposentei deste papel, agora sou uma velha, nenhum homem me canta mais, nenhum homem diz que sou gostosa, não me olha mais na rua, não preciso mais provar nada para ninguém, desisto desse papel, agora vou viver minha vida”. Aqui não se vive isso como uma libertação, mas como uma aposentadoria: já que não sou mais olhada, posso ser livre.

Livia: É como dizer que ser uma mulher jovem atrapalha. Enquanto se é jovem, deve-se viver de acordo com essa articulação...

Mirian: Mas quando está velha, ela quer ser jovem. Fica se paralisando em comportamentos e em sonhos e expectativas jovens.

Livia: Ela pode sentir, mesmo que tardiamente, esse gostinho de liberdade?

Mirian: Ela não tem um olhar sobre si mesma. Não sabe quem é, se não tiver um amor ao lado. Ouvi muito de minhas pesquisadas alemãs: “Não preciso do olhar do outro para saber se sou bonita, se sou sexy, se sou jovem. Eu me olho no espelho e vejo quem eu sou”. Mas no Brasil o olhar do outro é a prova da existência como mulher, e a ausência do olhar do outro é a prova do fracasso como mulher.

Livia: Mas esse olhar do outro é necessário para a constituição do sujeito. Precisamos disso para vingarmos psiquicamente. A questão é chegar a um momento em que a gente possa dispensar isso. Porque acho que na nossa cultura há exemplos brilhantes de mulheres que têm seus projetos bem encaminhados. E homens também, pois, como ficam dependendo sempre desse olhar da mãe ou do pai que os sustentam psiquicamente, isso se arrasta pela vida afora.

Mirian: Por que será que a nossa cultura valoriza esse tipo de comportamento e de subjetividade tão infantilizada? Uma pessoa de atitude madura, direta, aqui seria inviável. Uma mulher que diz o que pensa é considerada agressiva ou pouco feminina. Nossa cultura também não valoriza a maturidade. A maturidade é sinônimo de seriedade, de velhice, de ultrapassado... O slogan é: seja jovem até morrer, seja sexy até morrer, tenha um corpo e uma postura jovens até morrer. A maturidade é uma chata.

Livia: A vivência da mulher é extremamente infantilizadora. E você pode prolongar uma vida infantil por toda uma existência. Você depende de pai e mãe, depois depende do marido. Os pais, sobretudo com as meninas, criam relações do tipo “a filhinha do papai”, “vem no colinho do papai”... As filhas mulheres são muito protegidas, até pelos irmãos. Isso se perpetuou, se olharmos para trás, para as histórias das nossas avós, percebemos o quanto elas eram prisioneiras. Não conseguiam se libertar de forma nenhuma.

Mirian: Mas já existem condições objetivas para uma libertação. Há uma palavra que as brasileiras não usam e as alemãs sim. Estas se dizem mulheres emancipadas, e não só economicamente.

(...)


5 comentários:

Nana Odara disse...

Não conheço todas as mulheres brasileiras nem todas as mulheres européias... mas há aqui um certo exagero... nem tanto ao mar nem tanto à Terra... tanto no Brasil, como na Europa há mulheres perdidas e mulheres que estão vivendo um novo caminho de busca pela sua essência feminina...

Em ambas as sociedades, há a figura de uma libertação falsa da mulher, seja por um lado pela sexualidade ou por outro pelo poder do dinheiro, mas tanto num caso como no outro, as mulheres usam tanto o sexo como o dinheiro para atrair ainda o macho...

Pelo menos é isso que vejo com meus próprios olhos, na vida real, tanto de brasileiras, colombianas, mexicanas, portuguesas, francesas, alemas, americanas, etc... magras, gordas, velhas ou novas, mais humildes ou mais abastadas, mais inteligentes ou menos...

As mulheres que verdadeiramente estão interessadas nesse novo caminho, estão ainda isoladas e pouco articuladas a nivel prático, na vida real... e no entanto, no espaço virtual já conseguem ter maior êxito na exposição de idéias e troca de experiências...
A maior dificuldade me parece passar da teoria ou do campo das idéias para a vivência prática das descobertas...

Haverá uma libertação maior num futuro próximo... assim espero...

Nana Odara disse...

Tanto a mulher que usa a sexualidade como trunfo, ou até a maternidade, como aquela que usa o seu poder econômico ou intelectual estão todas ainda a serviço do patriarcado... Não existe essa hierarquia, de:
_ eu não faço sexo com os homens por isso sou superior às mulheres que ainda o fazem...

Pq no fundo, há uma menor hipocrisia e disfarçe da homossexualidade masculina, na Europa rica, e as mulheres não tem muita alternativa...

Ao contrário, no submundo latino ainda a a procura desvairada do sexo, por parte dos homens que não tem dinheiro suficiente para aderir a novos e muito mais caros brinquedinhos, ou "guetos" de luxo do sexo gay ou swings etc...

Resumindo e concluindo...

Na questão do envelhecimento, a Europa, por já estar vivendo a realidade do envelhecimento da população tem de lidar com essas questões muito mais cedo do que a sociedade brasileira, por exemplo que só vai lidar com isso no final do século ou início do próximo...


Na questão da sexualidade, eu não desprezo toalmente a sexualidade da mulher brasileira, e até acho que pode ser um caminho para uma descoberta do seu caminho na busca do feminino sagrado... o que não vejo acontecer, por exemplo, apenas pela maior independência financeira, mas vazia de essência ou de auto-conhecimento, fria e pálida das mulheres emancipadas e solitárias...

Ambas, e todas as mulheres entem a auseência do amor da Mãe, e essa grande carência não pode ser preenchida nem pelo falo, nem pelo cartão de crédito...

Só acontece no processo de libertação e busca interior, que fomenta a criação e a construção de um novo modelo social...

Qdo a mulher não for mais nem coitadinha nem rival, mas apenas mulher-deusa...

Anónimo disse...

post muito interessante. entendo que a rosa não está generalizando, falando de todas as mulheres, mas de um traço perceptível que se repete em determinado povo. isso existe mesmo.

acho que a mulher brasileira está referenciada demais no homem, e o curioso, é que no final dessa entrevista tão interessante, essas brilhantes autoras acham 'bonitinho' que uma senhora de 80 anos ainda queira/ espere se apaixonar. elas demonstram o que elas mesmas estavam criticando com tanta propriedade...

a questão do desapaixonar-se do homem, está ligada ao deixar de ter o macho como referência principal. eu acho difícil continuar se apaixonando por indivíduos aqui e ali depois que a gente aprende um pouco sobre real convivência, respeito, e o que os homens realmente podem nos dar em termos de companheirismo. e sexualidade tem a ver com isso, com essa projeção, com esse sonho do que eu quero do outro. a partir de uma certa hora, eu acho sadio e natural que isso canse.

acho que o nosso trabalho com o feminino tem a ver com legitimizar todas as formas de ser mulher e envelhecer como mulher. a sexualidade não pode ser sinal de saúde mental ou de 'vida ativa'.

Anónimo disse...

eu não penso como a nana quando diz que a sexualidade da brasileira "pode ser um caminho para uma descoberta do seu caminho na busca do feminino sagrado". eu acho que a sexualidade é porta para o sagrado, aberta para o homem. a porta do sagrado para a mulher é outra, não é o sexo nem o amor pelo homem. não acho que a gente chegue a nós mesmas através do sexo ou do homem... mas é apenas o meu ponto de vista.

agora, concordo completamente quando a nana diz que "todas as mulheres sentem a ausência do amor da Mãe, e essa grande carência não pode ser preenchida nem pelo falo, nem pelo cartão de crédito". acho que começamos a deixar de nos sentir tão carentes quando abraçamos as naturezas de todas as mulheres, e a nossa mesma.

Anónimo disse...

Minhas queridas:

eu acho o vosso depoimento muito bom, cada uma com a sua visão completando-se, mas também estou mais de acordo com a Anfíbia nos dois aspectos que ela cita. tanto o da mulher mais idosa...(eu sou essa mulher e sinto com você diz...)E isto que você diz é demasiado importante para nos desfocarmos do ponto: "acho que o nosso trabalho com o feminino tem a ver com legitimizar todas as formas de ser mulher e envelhecer como mulher. a sexualidade não pode ser sinal de saúde mental ou de 'vida ativa'" Concordo em absoluto!E aoutra coisa muito importante é: "eu acho que a sexualidade é porta para o sagrado, aberta para o homem. a porta do sagrado para a mulher é outra, não é o sexo nem o amor pelo homem. não acho que a gente chegue a nós mesmas através do sexo ou do homem..." Exactamente a mulher é a porta do sagrado e através do sexo para o homem mas a mulher é iniciada por natureza e tem de se encontrar com ela mesma e a sua sombra, descer às suas profundidades. Só depende dela...

e para as duas um enorme abraço
rosa leonor