O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, junho 21, 2009

SEJAM SALVAÇÃO

Sejam as mulheres como as rosas
Ou como as aquarelas
Quando estão conosco, quando não
Quando vibram, quando alegram
Quando doem, quando vem e quando vão
Quando descem as ladeiras
Quando sobem passarelas.

Tragam com elas os incorruptíveis
Sinais de beleza, ainda que se saiba
Impossível sua erupção
Fora da alma feminina, do corpo da mulher
Esse vulcão que tabalha nosso desatino
Faz a nossa inelutável rendição.

Ainda que se pense em mar,em céu
No incrível arco multicor, no ar
Que impregna a flora e balança
Os frutos verdes após a chuva.

E até no rodopio do ciclone
Que louva Deus bailando
Sua aterradora e tresloucada dança
Nas noites austrais, nas auroras boreais
Numa explosão de luzes no setentrião.

Nada disso ou tudo isso sequer
Supera uma lembrança de mulher.

Fora de seu riso e de seu colo
Não há razão de ser, nem como florescer
A magia,a poesia, o êxtase, a canção.

Chama-se então deslumbramento
A essa compulsória devoção.
E nesse diapasão lírico
Celebro as que se foram
Cuja ausência confrange o coração
As que esperam e acenam da janela,aquelas
Que vão mitigar a dor de existir
Reinventar a fúria sagrada do amor.

As que passam magestáticas
E a gente acompanha com olhar refém.
Aquelas que apesar de entusiasmo e de desvelo
Só nos dão o seu desdém.

As que não são vilãs, nem heroínas
Nem escravas, nem rainhas, nem fundamentais;
Algo mais que a sina feminina
Ou a maioridade que a elas se negou.
Não se diga "é bela esta mulher"
Porém bonita sua própria condição.

Surpreendam sempre como o plenilúnio
O arco-íris, o solstício de verão
Não falte nesse comovido poema
Uma voz aveludada, uma mecha de cabelo
Os opulentos seios das hollywoodianas
As pernas de garça das nordestinas
A imensa tristeza das chinesas de pés pequenos.

Dê-se as mulheres o leme do mundo, deixem-nas
Recuperar o sentido perdido da ternura
Apontar um outro rumo, à margem
Da brutalidade, da carnificina masculina
Uma trégua para repensar se vale a pena
Parir e amamentar mísseis e canhões.

Dê-se a elas o sonho do homem grande e do menino
Dê-se às mulheres-mães o direito
De intervir no conselho de guerra das nações
O direito de escolha além da irracionalidade viril
E da imbecil mutilação dos homens tolos.

Que além de toda dor e corrupção
Cinja-se o corpo da mulher
Ao corpo do poema, e de ambos
Não se aparte a beleza suprema.

Vão é vosso esmero, estilistas da confecção!
Esse corpo de mulher, divino e magistral
Só precisa de raio solar, folha de parreira.

Mas dê-se a elas bom frascos de perfume
Batons variegados, provocantes lingeries
Vestidos de organdi.
Dê-se a elas inclusive a ilusão
De que precisam de séquito, vestais
De algo mais que a generosidade
De suas curvas, a seda de suas peles.

Deixem-nas pensar que podem superar
A grandeza de sua própria criação.

Sejam bem amadas as amantes
Orquestrados com cuidado seus suspiros
Inebriados, os frágeis cristais e os apelos
De sua carne insaciada.

Sejam os rompantes das mal amadas
Amparados com carícias em dosséis
E o fogo que elas trazem represado
Arda nos flancos, ao galope dos corcéis.

Sejam como as rosas abertas
Cintilantes, despudoradas, acesas
Ou como aquelas fechadas
Grávidas de promessas e belezas.

Sejam gráceis, redentoras.
SEJAM SALVAÇÃO.

REDENTORAS,
poema de Erorci Santana,in Maravilta e Outros Cantares


Poema copiado de: http://wwwjaneladaalma.blogspot.com/

1 comentário:

Unknown disse...

Maravilhosa homenagem... Seu cantar tornou mais bela nossa existência 🙏🥰