..."Diz-se que tudo está ligado, que não se pode separar os sinais humanos dos que vêm da terra e do céu.
Dentro deste todo orgânico, o traço de união não é nenhuma corrente nem nenhuma corda, mas sim o sopro que é ao mesmo tempo unidade e garante de transformação.
Sim, a importância do sopro.
Porque, na origem, foi o Sopro primordial que, da combinação dos sopros vitais que são o Yin e o Yang, e o vazio intermédio, gerou o céu, a Terra e os Dez mil seres.
Uma vez constituído o universo vivo, os sopros vitais continuam evidentemente a funcionar, pois de contrário o universo desintegrava-se.
Mas há um problema.
Por força do caos e da desordem, nem todos os sopros têm uma validade constante; alguns podem revelar-se deficientes, perniciosos, malignos.
Daí a ideia do Shen, “sopro-espírito, espírito divino”, que é o critério do que é verdadeiro e justo.
O shen é a forma superior dos sopros vitais.
Ao garantir permanentemente a grande cadência do Tau, garante ao mesmo tempo o infalível princípio segundo o qual “a vida gera a vida”, frase-chave do Yi-Ching, o Livro das Mutações.
O shen não é, portanto uma ordem fatal.
No entanto, só os sinais emanados pelo Shen e por eles regidos são válidos.
O verdadeiro dever de um adivinho, ou de um médico, consiste justamente em captar o Shen que está no universo como no interior de cada corpo, pois que no corpo, mais do que a carne e o sangue, é acima de tudo a condensação de sopros.
É na medida em que o adivinho, bem como o médico, capta o Shen no coração duma entidade viva que pode restituir esta ao caminho da vida."
In, A eternidade não é demais
François Cheng
1 comentário:
https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=Mp3S4Vod0yw
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