O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, junho 08, 2015

E a Chave que se perdeu é a mulher.



"Na filosofia pagã, Pandora não é a fonte do mal; ela é a fonte da força, da dignidade e da beleza, portanto, sem adversidade o ser humano não poderia melhorar.
O nome "Pandora" possui vários significados: panta dôra, a que possui todos os dons, ou pantôn dôra, a que é o dom de todos/as (dos/as deuses/as).
...também significa a jarra (pithos) que “nada mais é que uma simples ânfora: um vaso muito grande, que serve para guardar grãos.
Este vaso só fica cheio através do esforço, do trabalho no campo, seu conteúdo então simboliza a condição humana.
Por consequência, será a Mulher que a abrirá e a servirá, para alimentar a família." W.


A Terra é um corpo inteligente, e nós respiramos o ar que a envolve e todos os seres vivos a respiram.
A Terra é o nosso Matrimónio… O nosso Templo vivo… Nós não vivemos no Céu…
É na Terra que nascemos, e é a Terra que temos de honrar, ao contrário do que as religiões do deus pai dizem, e que mais não fazem do que adiar a vida nas suas contingências e paradoxos…
A vida plena tem as suas raízes na Terra, e só sendo fiel à Terra Mãe podemos partir em paz e ascender aos céus…


E a Chave que se perdeu é a mulher.

A mulher que foi apagada da história e da vida social como ser autónomo, como ser individual e senhora da sua vontade…
A mulher que durante milénios cumpriu o pesado fardo de servir exclusivamente a humanidade, o homem na negação da sua individualidade, ao serviço da espécie como mãe, mas em total sujeição ao homem. Cumpriu séculos de sujeição ao pai e ao filho.
Agora é tempo de a mulher retomar as rédeas, e voltar a servir a Terra, e ser fiel à Deusa Mãe que é a Natureza.

A Mulher tem de recuperar a sua memória celular, recuperar a sua identidade esquecida, a identidade que perdeu ao ceder ao homem o seu poder de cura e amor, o seu poder de amar e ser livre…o seu dom de visão e profecia, a sua alegria a mais genuína.

É inconcebível que a mulher, só por ser mulher, seja ainda castigada e estropiada, violada e morta nas guerras pelos homens em todo o mundo.

É tempo de a mulher ser respeitada por si mesma como ser individual, e não colectivo, e realizar o Matrimónio sagrado com a Deusa Mãe e consigo mesma, unindo-se à outra mulher-metade de si e da qual foi separada há milénios…

É tempo da mãe e da filha se unirem, em vez de competirem entre si a lutar pelo homem.
É tempo de a mulher se libertar das algemas do matrimónio e da escravidão do sexo.


É tempo de a mulher olhar para dentro de si mesma e descobrir o seu tesouro escondido, o seu tesouro sem fim, o “manancial fechado” que ela se tornou e Abrir essa Caixa de Pandora, que ao contrário dos mitos que a anunciam como desgraças maiores causada pela Mulher – não pode haver maior desgraça do que a que os homens semearam na Terra – e que mais não fazem do que reflectir a milenar misoginia e medo ancestral da mulher, da sua força sensual e sexual, da seu poder magnético como fêmea, tal como o medo à força indomável da Natureza e que tanto assusta ainda os homens.
Foi por esse medo e desejo de controlar o mundo ctónico que os homens reprimiram e condenaram a mulher, e a fecharam nessa Caixa de Pandora sob a ameaça de perigos medonhos...

E assim, quer na religião quer o mito, fizeram pesar sobre a mulher a culpa do erro ou do pecado e dos males da humanidade, para a manter encerrada em si e calada, para a manter agrilhoada e incapaz de se defender ou agir por si mesma.

Tanto a mulher como  A Terra têm de ser respeitadas como um ente vivo, biológico e inteligente, e não ser tratada como objecto de posse do homem, cuja arrogância o leva a crer-se dono do mundo tendo-o dominado pela força e pela violência.
Milhões de seres humanos mortos pela sua conquista de poder e acumulação de riqueza…

O Homem que desventra a Terra para lhe sugar o seu “sangue”…

O Homem que explora a mulher como mãe dos seus filhos e a viola como despojo de guerra…


- A Mulher tem de descer ao abismo do seu ser ctónico, descer às raízes da Terra Mãe, mergulhar no seu Útero, caverna gruta oráculo de Delfos, o umbigo da Terra Mãe, e reclamar essa voz que se perdeu nos confins dos tempos…a voz das pitonisas, das sacerdotisas e feiticeiras e das Eríneas que eram deusas ao serviço da Mãe, e que por veredicto de Atena – a filha do pai - são transformadas em megeras e monstros, “bruxas” condenadas como criaturas pérfidas e mortíferas…

- A mulher que se encontra a si mesma, a mulher que acorda para o seu poder interno, torna-se na guardiã que mantêm os segredos da vida e da morte, e não os teme, e por isso é a mulher que tem de acordar os seus poderes para assim poder curar as suas próprias feridas e as do mundo…
As feridas das mil batalhas e das guerras, as feridas das armas e das bombas, dos desastres nucleares, da violência perpetrada com que o Homem a feriu no seu ventre e a ofendeu de morte – tanto à mulher como a Terra – tal como matou em si o seu feminino tornando-se no déspota e no assassino…
Ele fez da mulher a primeira escrava e depois o homem inferior… o escravo fraco também…
Dividiu o mundo em partes, e dividiu as mulheres em escravas, concubinas e meretrizes…
Esse mundo que fez a cisão da mulher em duas espécies, é o culpado da divisão hierárquica do mundo, e a exploração de seres humanos em todo o planeta."

Rosa Leonor Pedro
Mulheres e Deusas

republicando

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