O CASAMENTO - COMÉRCIO
(...)
"O casamento é hoje para mim uma das formas, sem dúvida a mais ambígua de comércio com o outro. Se evolução houve, apenas teria sido no sentido de lhe provar o peso tribal, o que tem, por ser instituição, de mais amplo e restrito que coisa que apenas a dois importa.
Casamento é coabitar e ver-se pelos outros coabitando. É encontro e coacção, o que dificilmente será trágico, se o encontro é de muita esperança e a coacção forte. Quem entenderá com paciência que o muito querer seja mandado?
Qual o desejo do outro que é sempre inquirir do mais, que não se abala ao saber-se compulsivamente, que não unicamente, doméstico, domiciliado em parte certa? Em função do que está em causa quando o amor está em causa, estará assim em causa o casamento? Ou será que falando de amor e casamento conjuntamente ocorremos em lamentável confusão?
Ambígua instituição pois, que ratifica o desejo de devir conjunto, que não deve ser ratificado por mais nada que por seus frutos de aventura moral, pela esperança e promessa que sempre me parecem dever ser coisas livres ou não ser. Aventura e coisa da cidade por oferecida e exposta, não imposta."
Maria Velho da Costa,
in Caderno Casamento da Revista o Tempo e o Modo, 1968.
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