O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, fevereiro 15, 2018

A MORTE DA MÃE...




“A mulher banhada em lágrimas surgiu detrás das árvores.

Tinha a face convulsa, mas os pés corriam, seguros sobre a erva.
Todas as olhávamos, paradas. E sabíamos que ela trazia uma má nova. Uma ferida profunda em seu seio.
- Eles tentarão, os homens, eles tentarão arrancar e levar consigo uma parte das entranhas da mulher. Chamar-lhe-ão falo. O princípio mágico da criação que habita o ventre das mulheres. A luz das deusas que sugere as formas pré-existentes na treva profunda, para que nossos olhos as descubram.
As lágrimas cobriam agora o espaço e o tempo. E a partir de então foi o momento de risco. E os próprios homens reconhecem que os deuses cometeram um erro ao fazê-los, respeitando, contudo, os deuses.
Havia-se acreditado que eram as mulheres que faziam as crianças: por sua força, ou por intervenção da lua, ou das deusas.
Havia-se acreditado que era o prazer que fazia as crianças.
Haviam os homens descoberto sua intervenção.
E um dia, os homens descobrem que nem o prazer nem mesmo o consentimento das mulheres são necessários: estas podem ser tomadas pela força das armas, ou pela força de um grupo de homens, como as cidadelas, e, impedidas de abortar, serão obrigadas a produzir filhos dos homens.
Este foi o principal facto que determinou toda a decadência das mulheres; a perda da sua magia.
O rapto e o estupro, juntamente com o assassínio, são específicas invenções do “Homem”: em mais nenhuma espécie animal se entregam os machos a tais feitos.”


"A Morte da Mãe" de Maria Isabel Barreno

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