“A mulher banhada em lágrimas surgiu detrás das árvores.
Tinha a face convulsa, mas os pés corriam, seguros sobre a erva.
Todas as olhávamos, paradas. E sabíamos que ela trazia uma má nova. Uma ferida profunda em seu seio.
- Eles tentarão, os homens, eles tentarão arrancar e levar consigo uma parte das entranhas da mulher. Chamar-lhe-ão falo. O princípio mágico da criação que habita o ventre das mulheres. A luz das deusas que sugere as formas pré-existentes na treva profunda, para que nossos olhos as descubram.
As lágrimas cobriam agora o espaço e o tempo. E a partir de então foi o momento de risco. E os próprios homens reconhecem que os deuses cometeram um erro ao fazê-los, respeitando, contudo, os deuses.
Havia-se acreditado que eram as mulheres que faziam as crianças: por sua força, ou por intervenção da lua, ou das deusas.
Havia-se acreditado que era o prazer que fazia as crianças.
Haviam os homens descoberto sua intervenção.
E um dia, os homens descobrem que nem o prazer nem mesmo o consentimento das mulheres são necessários: estas podem ser tomadas pela força das armas, ou pela força de um grupo de homens, como as cidadelas, e, impedidas de abortar, serão obrigadas a produzir filhos dos homens.
Este foi o principal facto que determinou toda a decadência das mulheres; a perda da sua magia.
O rapto e o estupro, juntamente com o assassínio, são específicas invenções do “Homem”: em mais nenhuma espécie animal se entregam os machos a tais feitos.”
"A Morte da Mãe" de Maria Isabel Barreno
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