O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, dezembro 10, 2019

O CONTO DE AIA



"...Sem mulheres capazes de dar à luz, a população humana seria extinta…."

"... O Conto da Aia Margaret Atwood é um romance feminista? Se isso significa que é um tratado ideológica no qual todas as mulheres são anjos ou estão vitimizadas e, portanto, perderam a capacidade de escolher moralmente, não. Se quer dizer que é um romance no qual as mulheres são seres humanos e além disso são interessantes e importantes, e o que acontece com elas é crucial para o tema, a estrutura e o enredo do livro... Então, sim. Nesse sentido, muitos livros são “feministas”.

Por que são interessantes e importantes? Porque na vida real as mulheres são interessantes e importantes. Não são um subproduto da natureza, não representam um papel secundário no destino da humanidade, e todas as sociedades souberam disso. Sem mulheres capazes de dar à luz, a população humana seria extinta. Por isso as violações em massa e o assassinato de mulheres, garotas e meninas foi uma característica comum das guerras genocidas, ou de qualquer ação destinada a subjugar e explorar uma população. O controle das mulheres e seus descendentes foi a base de todo regime repressivo do planeta. Napoleão e sua “bucha de canhão”, a escravidão e a mercadoria humana, uma prática eternamente renovada: ambos se encaixam aqui. Teríamos que perguntar àqueles que promovem a maternidade forçada: Cui bono? Quem se beneficia? Às vezes um setor, às vezes, outro. Nunca ninguém."


PORQUE MATAM OS HOMENS AS "SUAS" MULHERES?

"...Sem mulheres capazes de dar à luz, a população humana seria extinta. Por isso as violações em massa e o assassinato de mulheres, garotas e meninas foi uma característica comum das guerras genocidas, ou de qualquer ação destinada a subjugar e explorar uma população. O controle das mulheres e seus descendentes foi a base de todo regime repressivo do planeta. Napoleão e sua “bucha de canhão”, a escravidão e a mercadoria humana, uma prática eternamente renovada: ambos se encaixam aqui. Teríamos que perguntar àqueles que promovem a maternidade forçada: Cui bono? Quem se beneficia? Às vezes um setor, às vezes, outro. Nunca ninguém."


É TUDO MUITO PARECIDO...

"Era muito parecido, demais, com a história. Sim, as mulheres se unem para atacar outras mulheres. Sim, acusam as outras para se livrarem delas: vemos com absoluta transparência na era das redes sociais, que tanto favorecem a formação de enxames. Sim, aceitam encantadas situações que lhes dão poder sobre outras mulheres, mesmo – e talvez especialmente – em sistemas que no geral concedem escasso poder às mulheres: no entanto, todo poder é relativo e em tempos difíceis é evidente que ter pouco é melhor do que não ter nenhum. Algumas das Tias que exercem o controle são verdadeiras crentes e acham que estão fazendo um favor às Aias: pelo menos não foram enviadas para limpar resíduos tóxicos; pelo menos, neste mundo novo feliz, ninguém vai violá-las, ou não exatamente, ou pelo menos quem as violar não é um desconhecido. Entre as Tias algumas são sádicas. Outras são oportunistas. E serve para elas pegar algumas das reivindicações favoritas do feminismo de 1984 – como as campanhas contra a pornografia e a exigência de maior segurança contra os ataques sexuais – e usá-los em benefício próprio. Como dizia: a vida real."


Margaret Atwood


Ilustração de Anna e Elena Balbusso para a edição de 'O Conto da Aia' da The Folio Society.

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