O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, dezembro 16, 2019

UMA HUMANIDADE DOENTE



NÃO HÁ SAIDA?

"Ao tentar perceber como, enquanto mulheres, nós participamos ativa e passivamente no patriarcado e em como poderíamos recusar essa participação, facilmente ficamos bloqueadas com um sentimento de "não há saída". Na verdade, a nossa participação acontece de várias formas e primeiro precisamos de ser capazes de passar pelo processo de nomeação dessas formas de colaboração para podermos depois começar a pensar em vislumbrar maneiras REAIS de nos libertarmos." - Shekhina Weaver


É preciso antes de tudo que a mulher se aperceba de facto como é que ela é conivente sem saber ou sem querer com o Sistema que a aprisiona e anula e mantem uma posição que favorece a manutenção dos valores do patriarcado em todos os aspectos da sua vida. Primeiro ela tem de perceber como "A perda do feminino tem tido um impacto desastroso na nossa cultura", além de perceber que as mulheres tem sido as vitimas directas dessa perda admitindo que também o macho acabe por ser vitima de si próprio e do sistema, mas tendo a supremacia sobre a mulher e o poder na mão ele dificilmente se enxerga e aceita ser diferente e menos ainda entregar esse poder.
É um facto mais que obvio que  os valores do feminino foram totalmente negados, e assim também a mulher como ente foi desvalorizado. Nesse sentido compreendemos que "o masculino, frustrado devido a uma incapacidade para canalizar as suas energias em harmonia com um feminino devidamente desenvolvido, continua a liderar com a espada, ele brande as armas temerariamente e frequentemente flagelando o próximo com violência e destruição." mas é sobretudo a mulher a sua grande vitima, não só na guerra como em casa...
A mulher continua a ser implicitamente acusada e culpada da "queda" ou do sofrimento do homem. Ela é culpada porque ele nasce dela …e por outro lado o sexo sendo a causa do pecado faz com que ele   impute à mulher toda  a culpa...por isso, incapaz de reconhecer e sentir o seu próprio feminino ele  viola e mata as mulheres na sua impotência de se sentir amado, principalmente quando é preterido. 

A imagem da adúltera e pecadora aos pés do Senhor...


POR ISSO TEMOS UMA HUMANIDADE DOENTE

“A sexualidade culpada pode tornar-se perigosa, e tornar-nos efectivamente doentes...”

E temos, no mundo, além do rol das doenças de foro sexual, por promiscuidade e alienação ontológica da mesma, hoje além das ideologias de género, e as aberrações sociais como a pedofilia, há toda a espécie de sado-masoquismo e ainda a pornografia como resultado de tamanha e absurda negação da sexualidade sagrada e da mulher. De facto, pela negação da sexualidade e da associação perversa ao corpo da mulher tornado culpado pelo facto de ela atrair e seduzir o macho na sua condição de mulher iniciada, ela é reduzida a um objecto de prazer numa pratica mecanicista e sem dimensão amorosa e por conseguinte esta é uma forma de anular o seu papel como uma parte indissociável do par alquímico. Sem a Mulher como construtora da verdadeira relação para a totalidade do SER, enquanto seres complementares, rei e rainha, não há Obra...

Assim temos a mulher comum alienada de si e oposta a essa mulher iniciadora do amor, e mãe respeitada, como o era anteriormente ao cristianismo, para se tornar uma mera posse do homem na figura da casta esposa ou do outro lado da barricada a “tentadora do mal”, Lilith, a mulher banida por deus e que ficará associada ao diabo, condenada a proscrita ao longo dos séculos. Então a mulher antiga, em vez de Sacerdotisa da Deusa ou discípula do Mestre Jesus, como no caso de Maria Madalena foi “Chamada Prostituta” e encarnou assim a face da mulher sensual e livre que o patriarcado censurou e condenou a pecadora arrependida em oposição à Virgem Mãe imaculada.

A partir desta inversão de princípios, tudo o que a mulher faça é culpada só pelo facto de ser mulher. E tudo isso começou com a negação da sexualidade do Homem-Cristo pela Igreja e a necessidade de renegar a mulher enquanto amante e discípula, assim como o Clero nega ainda hoje a participação das mulheres nos púlpitos e nos seus rituais, e só as aceitam na sua Igreja como culpadas ou penitentes, de joelhos aos seus pés a pedir perdão por terem nascido mulheres!

Quanto tempo mais vai durar esta aberração-maldição sobre a mulher a Natureza e a terra em que o ser humano vive apenas em função do dinheiro do medo e da morte e não da alegria e da vida?

R.L.P. 2005

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