O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, dezembro 06, 2019

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A LEMBRAR UMA AMIGA 
E AUTORA DO TEXTO QUE MORREU DE DOR...


"Ela revolve a caixa com os dedos. Forrada de veludo para que nada se parta. Guarda perfumes. Miniaturas. Quase todos os aromas do mundo estão concentrados dentro daquela caixa. Eles são os únicos que a devolvem à realidade. Eles são um certo antídoto, para uma também, certa dor. A dor da Alma Amor. É muito difícil a aceitação deste tipo de dor sem nome e origem. Percorre-te as veias como sangue, respira em ti como oxigénio... não te liberta e consome-te!!! Torna-te menos tu, quando não o encontras... limita-te os horizontes, limita-te o crescimento e estrangula-te quando não puderes exprimi-la de forma correcta.

É preciso ser Mestre, para que no meio de intensa dor, consigas encontrar as forças e o foco, para orientares o olfacto para a fragrância e deixares-te fundir nela com todo o mergulho da dor!!! Uma dor inexplicável, que transcende quase toda a explicação psicanalítica. Que atravessa a carne sem compaixão... que instala-se em todos os compartimentos da tua casa interior. Agrega-se com intensidade viva e perturbadora. É um corpo de dor que te domina; que te rouba vida; que te absorve do essencial... tudo o que possas fazer, parece não acalmá-la de vez!!! A falta é o seu nome de baptismo.

Cada fragrância contida em cada frasco dentro daquela caixa, é portadora de uma suavidade tão subtil que puxa o gatilho e dissolve a dor momentaneamente. Não te cura, anestesia...

Quando abres um frasco e ele está frio, ainda não aquecido pelas tuas mãos, o aroma penetra-te pelo sistema olfactivo de forma sentida... e, algo em ti transcende e viajas até à quinta-substância impregnada no perfume. É tão fortemente suave o odor que emana, que encontras uma certa beleza mágica... diria que, um certo êxtase e, percebes, então, que há algo magnificamente elevado e divino!!!

Cada momento, uma fragrância, um aroma, um odor... e para que tal ocorresse, uma flor perdeu a sua vida, para que dela fosse extraída a sua quinta-essência, essa que te vai neutralizar a dor e quiçá, o poder de alquimizá-la...

Ela respira fundo, inspira com tanta intensidade e devagar, de forma que toda a dor acumulada no peito, se evapore e se misture à fragrância que diluirá a intensidade da dor!! É balsâmica e alquimica. Alquimia alquimia essa palavra tão fugidia que habita o alambique que é o nosso corpo. Frequentemente destilamos e é um processo de extraímos o « possível vir a ser ». Tudo dói... há corpos feridos por um qualquer deus, às vezes de forma propositada e que não respeita qualquer lei…"

ANA M. FERNANDES
NãoSouEuéaOutra in " A Dor "

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