O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, dezembro 12, 2023

A FALTA DE SENSUALIDADE



OS PORTUGUESES e a sua falta de sensualidade...


Li há dias algures uma crónica, em que se dizia que os escritores e realizadores portugueses são tão maus nas descrições das cenas eróticas ou amorosas que passam directamente do patético ao grotesco, do mecânico ao animalesco…pelo menos foi assim que o entendi e de facto nunca li em nenhum escritor português uma cena amorosa que fosse elevada e realmente sensual… (Abro uma excepção para ADORAÇÃO, de Leonardo Coimbra…muito mal visto pelos académicos do seu tempo)
Com efeito, de um modo geral, entre nós não há grande sensualidade, digamos uma sensibilidade erótica, espiritualizada, vivida no sentido amoroso mais lato, que seja transversal aos sexos e às idades…Uma sensualidade que esteja na origem de uma atracção natural não só entre mulheres e homens mas que se baseie na inteligência e na emoção pura, na cumplicidade, no encanto, no charme e na expressão natural do amor entre as pessoas independentemente do género e de haver ou não desejo sexual. Os portugueses em geral confundem tudo com sexualidade (digo genitalidade) sem ver que a sensualidade dos afectos ou dos gestos nem sempre significam sexualidade. Com isso perdem um certo prazer de viver e a motivação ou a criatividade que deixa de existir sem esse elan!
As pessoas em Portugal, penso, passaram por cima de tudo o que implicaria uma tradição cultural de sedução porque lhes faltou uma educação sensual livre baseada no respeito pelo próximo, nomeadamente da mulher, e do conhecimento de si mesmo, para se fixarem numa abordagem genital, exterior a si, numa agressividade verbal que fica a um passo da violência sexual. Porque a liberdade brusca, essa falsa liberdade que se criou depois do 25 de Abril, a seguir aos longos anos de opressão social e religiosa, com muitos preconceitos de cariz sexual e atavismos religiosos, aconteceu abruptamente e superficialmente, sem haver qualquer  transição para uma verdadeira liberdade baseada numa educação do SER e portanto sem fundamento ético nem uma sensibilidade estética das pessoas, demasiado atrasadas e incultas, na realidade analfabetas na sua esmagadora maioria. Passou-se de uma sexualidade reprimida e oculta, envergonnhada e pecaminosa vivida as escondidas a uma sexualidade básica, objectiva e muitas vezes abjecta e os machos já não perdem tempo “com cantigas”…vão directamente ao “assunto”. Há uma espécie de castração da sensibilidade-sensualidade em Portugal. Sobretudo nos homens, mas também nas mulheres.

ESCRITO EM 2010
rlp


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