O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, dezembro 06, 2023

AS EMOÇÕES E O NEGATIVO



O ‘negativo’ não são as emoções: o ‘negativo’ é não percebermos ao que elas correspondem...

"Na realidade, se soubéssemos da capacidade de autorregulação psicossomática que o nosso corpo tem, se conhecêssemos a função da sexualidade e do prazer em tal autorregulação, se fossemos conscientes da repressão social e corporal, do dano ocasionado por essa repressão, e do massacre que supõe o como nascemos e nos socializamos, se pudéssemos ter consciência de nossas pulsões e de nossa capacidade orgástica, as nossas biografias pessoais deixariam de serem um mistério, os nossos corpos seriam um livro aberto e podíamos compreender o que acontece connosco. E quando percebêssemos o que acontece, a situação daria uma volta de 180º.
Sentiríamos a transparência interior, o vínculo das emoções e dos sentimentos com as pulsões viscerais, uma coerência interna, e, portanto, uma atitude frente ao exterior que desfazeria os sentimentos de culpa, libertaria a energia anímica, as ‘vontades de fazer’, a paixão pelas coisas que nos movem e comovem; e essa paixão nos serviria de guia para adotar a melhor conduta, a melhor adaptação possível ante as relações sociais.

No entanto, a incompreensão e a confusão sobre o que nos sucede, e o facto de acreditarmos que somos responsáveis ou culpados pelos efeitos patológicos da repressão, é uma fonte permanente de desassossego e angústia; de facto é uma parte muito importante do mal-estar psíquico individual que desaparece quando recuperamos a perceção da nossa integridade psicossomática. O ‘negativo’ não são as emoções: o ‘negativo’ é não percebermos ao que elas correspondem, e o acreditar que correspondem a algum tipo de pecado o de culpa própria, ou como se costuma dizer agora, ao facto de não se ter feito os deveres de casa; culpados como na história de Édipo em que ele mesmo declara-se culpado de uma tragédia que foi provocada pelo facto da sua mãe e do seu pai o abandonarem e o condenarem a morrer ao nascer."

Pag 157-158-159 - A REBELIÃO DE EDIPO de Cacilda Rodrigañes Bustus


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