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O ‘negativo’ não são as emoções: o ‘negativo’ é não percebermos ao que elas correspondem...
"Na realidade, se soubéssemos da capacidade de autorregulação psicossomática que o nosso corpo tem, se conhecêssemos a função da sexualidade e do prazer em tal autorregulação, se fossemos conscientes da repressão social e corporal, do dano ocasionado por essa repressão, e do massacre que supõe o como nascemos e nos socializamos, se pudéssemos ter consciência de nossas pulsões e de nossa capacidade orgástica, as nossas biografias pessoais deixariam de serem um mistério, os nossos corpos seriam um livro aberto e podíamos compreender o que acontece connosco. E quando percebêssemos o que acontece, a situação daria uma volta de 180º.
Sentiríamos a transparência interior, o vínculo das emoções e dos sentimentos com as pulsões viscerais, uma coerência interna, e, portanto, uma atitude frente ao exterior que desfazeria os sentimentos de culpa, libertaria a energia anímica, as ‘vontades de fazer’, a paixão pelas coisas que nos movem e comovem; e essa paixão nos serviria de guia para adotar a melhor conduta, a melhor adaptação possível ante as relações sociais.
No entanto, a incompreensão e a confusão sobre o que nos sucede, e o facto de acreditarmos que somos responsáveis ou culpados pelos efeitos patológicos da repressão, é uma fonte permanente de desassossego e angústia; de facto é uma parte muito importante do mal-estar psíquico individual que desaparece quando recuperamos a perceção da nossa integridade psicossomática. O ‘negativo’ não são as emoções: o ‘negativo’ é não percebermos ao que elas correspondem, e o acreditar que correspondem a algum tipo de pecado o de culpa própria, ou como se costuma dizer agora, ao facto de não se ter feito os deveres de casa; culpados como na história de Édipo em que ele mesmo declara-se culpado de uma tragédia que foi provocada pelo facto da sua mãe e do seu pai o abandonarem e o condenarem a morrer ao nascer."
Pag 157-158-159 - A REBELIÃO DE EDIPO de Cacilda Rodrigañes Bustus
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