O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, agosto 26, 2005

“A MINHA DOR POR TER SIDO ABANDONADA PELA MINHA MÃE É UM PREGO NO MEU CORAÇÃO. É VIVER NA MORTE.”*


TODAS AS MULHERES, salvo raras excepções, são, grosso modo, “abandonadas” pelas mães senão de forma concreta por vezes, pelo menos são-no quase sempre, ao nível afectivo e psicológico, quase sempre de forma subtil e de acordo com os preconceitos seculares. Raras mães puderam ou souberam amar as suas filhas, dando-lhes valor ou liberdade, porque uma filha cujo destino é espelhar o seu próprio sofrimento oculto ou mitigado em forma de sacrifício à família, à sociedade e à religião, vai inconscientemente, fazer com que ela se distancie da dor previsível da filha, na proporção da sua própria frustração, ao não querer ou não saber enfrentar o seu próprio sofrimento proveniente da sua anulação como ser individual. Logo que nasce, uma mulher está condenada a casar ou a não casar...a servir o homem ou o padre ou a prostituir-se e ser exilada...é quase sempre um peso para a família económica e “moralmente”, e o temor do que possa acontecer a uma rapariga que não tiver “dono” pesa na deformação da mulher. Por essa mesma razão a mãe, inconscientemente claro, condena a filha ao mesmo destino de inutilidade por um lado e sofrimento por outro, e acalenta exclusivamente toda a esperança no filho macho assim como todo o seu orgulho ou vaidade. O filho é homem e vai vencer por ela ou “vingar” na vida (e a ela) e o ciclo é vicioso...Com diferenças maiores ou menores de acordo com o nível económico da família, de educação ou das culturas e tradições dos países e religiões de origem, o facto é que a mulher em todo o mundo não deixou de ser ainda vítima de um preconceito milenar.

A sociedade patriarcal ao perpetuar a inferioridade da mulher e ao condená-la a um papel secundário de submissão e subalternidade, pôs e continua a por em risco o equilíbrio da sociedade em que vive e não percebe que todos os males que a assolam passam por esse abismo que se criaram entre o homem e a mulher e que não basta haver no Ocidente, uma aparente liberdade ou igualdade sem a consciência do ser profundo da mulher mágica e da Deusa que esta mesma sociedade patriarcal renegou há milhares de anos. As mulheres foram e são as grandes vítimas da influência nefasta e redutora da mulher pela religião judaico-cristã! e o mundo inteiro com elas - pois as mulheres são as mães dos homens, convém não esquecer!

- Como sabemos hoje em dia foram os hebreus e outros grupos (equeus e dórios) de sacerdotes guerreiros que invadiram e destruíram as sociedades pacíficas onde as mulheres viviam em harmonia e consequentemente em paz com os homens. Viviam em paridade no que se pressupõe ser uma forma de matriarcado, com os seus rituais de fertilidade e dádiva, com os ciclos da vida e da natureza, respeitando as estações, as colheitas e as fazes da lua a que correspondiam as suas “regras” etc., quando chegaram os invasores bárbaros e destruíram esse equilíbrio e começaram a implantar as suas leis de nómadas do deserto que trouxeram o seu deus iracundo, um deus misógino e dominador, que considerava as mulheres imperfeitas e inferiores. Essa parte da história tal como o Feminino Mágico, o tempo das sacerdotisas do amor sagrado como ritual e iniciação ao amor da Deusa, em que a Mulher era a Matriz, ficou relegada para os subterrâneos da “pré-história”...onde esses invasores bárbaros só trouxeram com o seu deus, dor, escravidão, morte e destruição...

“AS MULHERES ESTÃO NO EXÍLIO HÁ MAIS DE 5.000 ANOS...”
(Nota de rodapé de um livro emprestado...)

A DESCIDA AO INTERIOR DA TERRA-DEUSA-MÂE


“O sofrimento é uma parte relevante do feminino subterrâneo. Ele pode permanecer inconsciente até que o advento da Deusa da Luz o desperte para a percepção, o mova do entorpecimento silencioso em direcção à dor. Ao nível mágico da consciência ele é suportado de forma amenizada numa aparente “insensibilidade”. Desse modo como que não há percepção de sofrimento.(...) Mas o sofrimento é uma parte do feminino .”*

Isto quer dizer que quando a mulher tem consciência da Deusa da Luz, o sofrimento que a sua ausência - ou a falta de consciência de si mesma - provoca, é anulado pelo conhecimento de uma parte de si que lhe faltava e que serve de suporte à sua evolução e a uma nova postura na vida. Enquanto a mulher não fizer essa descida ao abismo que ela mesma é, ela não consegue deixar de sofrer a sua divisão e fragmentação e viverá como vítima secular reduzida a um instrumento de procriação e prazer ao serviço da sociedade, manietada pelo estado e pela religião. Pois “a vida da mulher tem sido uma realidade de partos repetidos e verdadeiramente presenciados pela morte, um ciclo natural que manteve a maior parte de sua vida centrada na áspera malignidade da realidade, na sensação de estar vivendo à beira de um abismo. Assim a criatividade feminina se consumiu nos partos, nas artes e manutenções domésticas - coisas sujeitas ao desgaste e à destruição, coisas a ser devoradas - além de não ter muito valor num contexto cultural mais amplo, embora constituam a força civilizacional básica de qualquer cultura, imediata e pessoal, construída nos pequenos interstícios do processo de manter a sobrevivência da família. Num contexto destes não é de espantar que o homem judeu agradeça a deus por não ter nascido mulher.(...)”*

“CAMINHO PARA A INICIAÇÃO FEMININA”
De Sylvia B. Perera

3 comentários:

Astrid Annabelle disse...

Um post maravilhoso. Merece várias releituras. E é o que irei fazer. Já está entre os meus favoritos.
Beijo Rosa...
Astrid Annabelle

Anónimo disse...

Se não for pedir muito, na verdade gostaria que se pudesse explicar mais sobre a relação das mulheres entre si ( a origem desses conflitos e suas formas). È um tema importante e tal vez seja este o ponto necessário para entender o porquê de tanta rivalidade e desarmonias. Pela sororidade. Lux Iris Lux.

Deolinda Blathorsarn disse...

Muito bom.obrigada...